FREUD, S. Capítulo IV: O Mecanismo do prazer e a psicogênese dos chistes. In: VOL. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.“Um chiste é agora enfocado como um fator psíquico munido de poder: seu peso, avaliado em uma ou outra escala, pode ser decisivo. Os principais propósitos e instintos da vida mental empregam-no para seus próprios fins.(…) Para propósitos agressivos, empregar o mesmo método para tornar o ouvinte, inicialmente indiferente, em correligionário de seu ódio ou desprezo, criando para o inimigo um pugilo de oponentes quando, de início, só existia um único.”
FREUD, S. Capítulo VIII: Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna(1908). In: VOL. IX – “Gradiva” de Jensen e outros trabalhos (1906 – 1908). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Uma esposa neurótica, insatisfeita, torna-se uma mãe excessivamente terna e ansiosa, transferindo para o filho sua necessidade de amor. Dessa forma ela o desperta para a precocidade sexual. Além disso, o mau relacionamento dos pais excita a vida emocional da criança, fazendo-a sentir amor e ódio em graus muito elevados ainda em tenra idade. Sua educação rígida, que não tolera qualquer atividade dessa vida sexual precocemente despertada, vai em auxílio da força supressora e esse conflito, em idade tão tenra, fornece todos os elementos necessários ao aparecimento de uma doença nervosa que durará toda a vida.”
FREUD, S. Capítulo II: Notas sobre um caso de neurose obsessiva (1909). In: VOL. X – Duas histórias clínicas: O “Pequeno Hans” e o “Homem dos ratos” (1909). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Para confirmar, o ódio precisa ter uma fonte, e descobrir essa fonte era certamente um problema; suas próprias afirmações indicavam a época em que ele temia que seus pais adivinhassem seus pensamentos. Por outro lado, também se poderia perguntar por que esse seu amor intenso não lograra extinguir seu ódio, como de praxe acontecia quando não havia dois impulsos antagônicos. Apenas poderíamos presumir que o ódio deve fluir de alguma fonte, que deve estar relacionado com alguma causa particular que o tornasse indestrutível. Por um lado, então, alguma conexão dessa espécie deve estar mantendo vivo seu ódio pelo pai, ao passo que, por outro lado, o seu intenso amor o impedia de tornar-se consciente. Por conseguinte, nada restou para ele, a não ser existir no inconsciente, embora fosse, vez ou outra, capaz de irradiar-se, por instantes, para dentro da consciência.”
“A dúvida contida em sua obsessão por compreensão era uma dúvida de seu (dela) amor. No peito do amante enfurecia-se a batalha entre amor e ódio, e o objeto desses dois sentimentos era a única e mesma pessoa.”
“Atos compulsivos como este, em dois estádios sucessivos, quando o segundo neutraliza o primeiro, constituem uma típica ocorrência nas neuroses obsessivas. Naturalmente a consciência do paciente interpreta-os mal e formula um conjunto de motivações secundárias que os explica – em suma, que os racionaliza. (Cf. Jones, 1908.) Sua real significação, contudo, reside no fato de serem eles representação de um conflito entre dois impulsos opostos de força aproximadamente igual; e, até agora, tenho achado, invariavelmente, que esta se trata de uma oposição entre o amor e o ódio.”
“Podemos considerar a repressão de seu ódio infantil contra o pai como o evento que colocou todo o seu modo de vida subsequente sob o domínio da neurose.”
“Os conflitos de sentimentos em nosso paciente, os quais aqui enumeramos separadamente, não eram independentes um do outro, mas coligados em pares. Seu ódio pela dama estava inevitavelmente ligado a seu afeiçoamento ao pai, e, de modo inverso, seu ódio pelo pai com seu afeiçoamento à dama. Contudo, ambos os conflitos de sentimento resultantes dessa simplificação – ou seja, a oposição entre sua relação com seu pai e com sua dama, e a contradição entre seu amor e seu ódio dentro de cada uma dessas relações – não possuíam a mínima conexão entre si, quer em seu conteúdo quer em sua origem.”
“O outro conflito, entre o amor e o ódio, atinge-nos com uma estranheza maior. Sabemos que o amor incipiente com frequência é percebido como o próprio ódio, e que o amor, se se lhe nega satisfação, pode, com facilidade, ser parcialmente convertido em ódio; os poetas nos dizem que nos mais tempestuosos estádios do amor os dois sentimentos opostos podem subsistir lado a lado, por algum tempo, ainda que em rivalidade recíproca. Mas a coexistência crônica de amor e ódio, ambos dirigidos para a mesma pessoa e ambos com o mesmo elevadíssimo grau de intensidade, não pode deixar de assombrar-nos. Seria de esperar que o amor apaixonado tivesse, há muito tempo atrás, conquistado o ódio ou por ele sido absorvido. E, com efeito, uma tal sobrevivência protelada dos dois opostos só é possível sob condições psicológicas bastante peculiares e com a cooperação do estado de coisas presentes no inconsciente. O amor não conseguiu extinguir o ódio, mas apenas reprimi-lo no inconsciente; e no inconsciente o ódio, protegido do perigo de ser destruído pelas operações do consciente, é capaz de persistir e, até mesmo, de crescer. Em tais circunstâncias, o amor consciente alcança, via de regra, mediante uma reação, um sobremodo elevado grau de intensidade, de maneira a ficar suficientemente forte para a eterna tarefa de manter sob repressão o seu oponente. A condição necessária para a ocorrência de um estado de coisas tão estranho na vida erótica de uma pessoa parece ser que, numa idade realmente precoce, em algum lugar no período pré-histórico de sua infância, ambos os opostos ter-se-iam separado e um deles, habitualmente o ódio, teria sido reprimido.”
“O ódio, sobretudo, conservando-se suprimido no inconsciente por ação do amor, desempenha um grande papel na patogênese da histeria e da paranoia. Conhecemos muito pouco a natureza do amor para sermos capazes de chegar, aqui, a alguma conclusão definitiva; ademais, particularmente, a relação entre o fator negativo no amor e os componentes sádicos da libido permanece inteiramente obscura. O que vem a seguir deve, por conseguinte, ser visto como nada mais além de uma explicação de caráter provisório. Podemos supor, então, que nos casos de ódio inconsciente com os quais nos preocupamos agora os componentes sádicos do amor têm sido, partindo das causas constitucionais, desenvolvidos de modo excepcionalmente intenso, e, em consequência disso, sofrido uma supressão prematura e profundamente radical, e que os fenômenos neuróticos que observamos se originam, de um lado, dos sentimentos conscientes de afeição que ficaram exacerbados como se fossem uma reação, e, por outro lado, do sadismo que persiste no inconsciente sob a forma de ódio.”
“Não obstante, sem ligar para o modo como essa notável relação entre o amor e o ódio deva ser explicada, seu aparecimento é estabelecido, sem sombra de dúvida, pelas observações feitas no atual caso; ademais, é gratificante descobrir com que facilidade podemos, agora, acompanhar os enigmáticos processos de uma neurose obsessiva fazendo-os relacionarem-se com esse fator. Se a um amor intenso se opõe um ódio de força quase equivalente e que, ao mesmo tempo, esteja inseparavelmente vinculado a ele, as consequências imediatas serão certamente uma paralisia parcial da vontade e uma incapacidade de se chegar a uma decisão a respeito de qualquer uma das ações para as quais o amor deve suprir a força motivadora.”
“A dúvida corresponde à percepção interna que tem o paciente de sua própria indecisão, a qual, em consequência da inibição de seu amor através de seu ódio, dele se apossa diante de qualquer ação intencionada. A dúvida é, na realidade, uma dúvida de seu próprio amor – que devia ser a coisa mais exata em sua mente como um todo; e ela se difunde por tudo o mais, sendo formente capaz de ser deslocada para aquilo que é mais insignificante e sem valor. Um homem que duvida de seu próprio amor permite-se, ou, antes, tem de duvidar de alguma coisa de menor valor.”
FREUD, S. Capítulo IV: Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância. In: VOL. XI – Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910[1909]). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Parecia, assim, forçosamente, indiferente ao bem e ao mal, ao belo e ao horrível. Durante esse trabalho de pesquisa, o amor e o ódio se despiam de suas formas positivas ou negativas e ambos se transformavam apenas em objeto de interesse intelectual. Na verdade, Leonardo não era insensível à paixão; não carecia da centelha sagrada que é direta ou indiretamente a força motora – il primo motore – de qualquer atividade humana.”
“A transformação da força psíquica instintiva em várias formas de atividade, da mesma maneira que a transformação das forças físicas, não poderia ser realizada sem prejuízo. O exemplo de Leonardo mostra-nos quantas outras coisas precisam ser consideradas com relação a estes processos. O adiamento do amor até o seu pleno conhecimento constitui um processo artificial que se transforma em uma substituição. De um homem que consegue chegar até o conhecimento não se poderá dizer que ama ou odeia; situa-se além do amor e do ódio. Terá pesquisado em vez de amar.”
FREUD, S. Capítulo V: As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica. In: VOL. XI – Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910[1909]). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O sucesso que o tratamento pode ter com o indivíduo, deve ocorrer, igualmente, com a comunidade. As pessoas doentes não serão capazes de deixar que as suas diversas neuroses se tornem conhecidas – a sua ansiosa superternura que tem em mira ocultar-lhe o ódio, a sua agorafobia que se relaciona com a ambição frustrada, as suas atitudes obsessivas que representam auto-censuras por más intenções e precauções contra as mesmas – se todos os seus parentes e cada estranho, dos quais desejam ocultar os seus processos mentais, conheceram o significado geral de tais sintomas, e se eles próprios souberem que, nas manifestações de sua doença, nada estão produzindo que outra pessoa, imediatamente, não possa interpretar.”
FREUD, S. Capítulo VII: Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuições à psicologia do amor). In: VOL. XI – Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1910[1909]). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Ele começa a desejar a mãe para si mesmo, no sentido com o qual, há pouco, acabou de se inteirar, e a odiar, de nova forma, o pai como um rival que impede esse desejo; passa, como dizemos, ao controle do complexo de Édipo. Não perdoa a mãe por ter concedido o privilégio da relação sexual, não a ele, mas a seu pai, e considera o fato como um ato de infidelidade.”
FREUD, S. Capítulo XIX: A disposição à neurose obsessiva uma contribuição ao problema da escolha da neurose (1913). In: VOL. XII – O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Se considerarmos que os neuróticos obsessivos têm de desenvolver uma supermoralidade a fim de proteger seu amor objetal da hostilidade que espreita por trás dele, ficaremos inclinados a considerar um certo grau desta precocidade de desenvolvimento do ego como típico da natureza humana e derivar a condição para a origem da moralidade do fato de desenvolvimento, o ódio é o precursor do amor.”
FREUD, S. Capítulo III: Tabu e ambivalência emocional. In: VOL. XIII – Totem e tabu e outros trabalhos (1913-1914). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Dessa maneira, um elemento de desconfiança pode ser encontrado entre as razões para a observância dos tabus que cercam o rei. ‘A idéia’, escreve Frazer (1911b, 7 e segs.), ‘de que os reinos primitivos são despotismos em que o povo existe apenas para o soberano, é inteiramente inaplicável às monarquias que estamos considerando. Pelo contrário, o soberano nelas existe apenas para os seus súditos, sua vida só é valiosa enquanto se desempenha dos deveres de sua posição ordenando o curso da natureza em benefício de seu povo. Assim que fracassa em consegui-lo, o cuidado, a devoção e as homenagens religiosas que até então lhe haviam prodigalizado cessam e se transformam em ódio e desprezo; ele é ignominiosamente posto de lado e pode considerar-se feliz se escapar com vida. Adorado como um deus num dia, é morto como um criminoso no seguinte. Mas nesse comportamento modificado do povo não existe nada de caprichoso ou inconstante. Pelo contrário, sua conduta é inteiramente íntegra. Se o seu rei é seu deus, ele é ou deveria ser também o seu protetor; se não os protege, deve ceder lugar a outro que o faça.”
FREUD, S. Capítulo IV: O retorno do totemismo na infância. In: VOL. XIII – Totem e tabu e outros trabalhos (1913-1914). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A análise também nos permite descobrir os motivos do deslocamento. O ódio pelo pai que surge num menino por causa da rivalidade em relação à mãe não é capaz de adquirir uma soberania absoluta sobre a mente da criança; tem de lutar contra a afeição e admiração de longa data pela mesma pessoa. A criança se alivia do conflito que surge dessa atitude emocional de duplo aspecto, ambivalente, para com o pai deslocando seus sentimentos hostis e temerosos para um substituto daquele. O deslocamento, no entanto, não pode dar cabo do conflito, não pode efetuar uma nítida separação entre os sentimentos afetuosos e os hostis. Pelo contrário, o conflito é retomado em relação ao objeto para o qual foi feito o deslocamento: a ambivalência é estendida a ele.”
“Muitas vezes tive ocasião de assinalar que a ambivalência emocional, no sentido próprio da expressão – ou seja, a existência simultânea de amor e ódio para os mesmos objetos – jaz na raiz de muitas instituições culturais importantes. Não sabemos nada da origem dessa ambivalência. Uma das pressuposições possíveis é que ela seja um fenômeno fundamental de nossa vida emocional. Mas parece-me bastante válido considerar outra possibilidade, ou seja, que originalmente ela não fazia parte de nossa vida emocional, mas foi adquirida pela raça humana em conexão com o complexo-pai, precisamente onde o exame psicanalítico de indivíduos modernos ainda a encontra revelada em toda a sua força.”
FREUD, S. Capítulo IV: Os instintos e suas vicissitudes (1915). In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Encontram-se exemplos do primeiro processo nos dois pares de opostos: sadismo-masoquismo e escopofilia-exibicionismo. A reversão afeta apenas as finalidades dos instintos. A finalidade ativa (torturar, olhar), é substituída pela finalidade passiva (ser torturado, ser olhado). A reversão do conteúdo encontra-se no exemplo isolado da transformação do amor em ódio.”
“A mudança do conteúdo de um instinto em seu oposto só é observada num exemplo isolado – a transformação do amor em ódio. Visto ser particularmente comum encontrar ambos dirigidos simultaneamente para o mesmo objeto, sua coexistência oferece o exemplo mais importante de ambivalência de sentimento.”
“O caso de amor e ódio adquire especial interesse pela circunstância de que se recusa a ajustar-se a nosso esquema dos instintos. É impossível duvidar de que exista a mais íntima das relações entre esses dois sentimentos opostos e a vida sexual, mas naturalmente relutamos em pensar no amor como sendo uma espécie de instinto componente específico da sexualidade, da mesma forma que os outros que vimos examinando. Preferiríamos considerar o amor como sendo a expressão de toda a corrente sexual de sentimento, mas essa ideia não elucida nossas dificuldades e não podemos ver que significado poderia ser atribuído a um conteúdo oposto dessa corrente.”
“Como já vimos, o objeto é levado do mundo externo para o ego, a princípio, pelos instintos de autopreservação; não se pode negar que também o odiar, originalmente, caracterizou a relação entre o ego e o mundo externo alheio com os estímulos que introduz. A indiferença se enquadra como um caso especial de ódio ou desagrado, após ter aparecido inicialmente como sendo seu precursor. Logo no começo, ao que parece, o mundo externo, objetos e o que é odiado são idênticos. Se depois um objeto b\vem a ser uma fonte de prazer, ele é amado, mas é também incorporado ao ego, de modo que para o ego do prazer purificado mais uma vez os objetos coincidem com o que é estranho e odiado.”
“Agora, contudo, podemos notar que da mesma forma que o par de opostos amor-indiferença reflete a polaridade ego-mundo externo, assim também a segunda antítese amor-ódio reproduz a polaridade prazer-desprazer, que está ligada à primeira polaridade… se o objeto for uma fonte de sensações desagradáveis, há uma ânsia (urge) que se esforça por aumentar a distância entre o objeto e o ego, e a repetir em relação ao objeto a tentativa original de fuga do mundo externo com sua emissão de estímulos. Sentimos a ‘repulsão’ do objeto, e o odiamos; esse ódio pode depois intensificar-se ao ponto de uma inclinação agressiva contra o objeto – uma intenção de destruí-lo.”
“Poderíamos, num caso de emergência, dizer que um instinto ‘ama’ o objeto no sentido do qual ele luta por propósitos de satisfação, mas dizer que um instinto ‘odeia’ um objeto, nos parece estranho. Assim, tornamo-nos cônscios de que as atitudes de amor e ódio não podem ser utilizadas para as relações entre os instintos e seus objetos, mas estão reservadas para as relações entre o ego total e os objetos. Mas, se considerarmos o uso lingüístico, que por certo não é destituído de significação, veremos que há outra limitação ao significado do amor e do ódio.”
“É digno de nota que no uso da palavra ‘ódio’ não aparece essa conexão íntima com o prazer sexual e a função sexual. A relação de desprazer parece ser a única decisiva. O ego odeia, abomina e persegue, com intenção de destruir, todos os objetos que constituem uma fonte de sensação desagradável para ele, sem levar em conta que significam uma frustração quer da satisfação sexual, quer da satisfação das necessidades autopreservativas. Realmente, pode-se asseverar que os verdadeiros protótipos da relação de ódio se originam não da vida sexual, mas da luta do ego para preservar-se e manter-se.”
“Vemos, assim, que o amor e o ódio, que se nos apresentam como opostos completos em seu conteúdo, afinal de contas não mantêm entre si uma relação simples. Não surgiram da cisão de uma entidade originalmente comum, mas brotaram de fontes diferentes, tendo cada um deles se desenvolvido antes que a influência da relação prazer-desprazer os transformasse em opostos.”
“O ódio, enquanto relação com objetos, é mais antigo que o amor. Provém do repúdio primordial do ego narcisista ao mundo externo com seu extravasamento de estímulos. Enquanto expressão da reação do desprazer evocado por objetos, sempre permanece numa relação íntima com os instintos autopreservativos, de modo que os instintos sexuais e os do ego possam prontamente desenvolver uma antítese que repete a do amor e do ódio. Quando os instintos do ego dominam a função sexual, como é o caso na fase da organização anal-sádica, eles transmitem as qualidades de ódio também à finalidade instintual.”
“A história das origens e relações do amor nos permite compreender como é que o amor com tanta freqüência se manifesta como ‘ambivalente’ – isto é, acompanhado de impulsos de ódio contra o mesmo objeto. O ódio que se mescla ao amor provém em parte das fases preliminares do amar não inteiramente superadas; baseia-se também em parte nas reações de repúdio aos instintos do ego, os quais, em vista dos freqüentes conflitos entre os interesses do ego e os do amor, podem encontrar fundamentos em motivos reais e contemporâneos. Em ambos os casos, portanto, o ódio mesclado tem como sua fonte os instintos auto-preservativos. Se uma relação de amor com um dado objeto for rompida, freqüentemente o ódio surgirá em seu lugar, de modo que temos a impressão de uma transformação do amor em ódio. Esse relato do que acontece leva ao conceito de que o ódio, que tem seus motivos reais, é aqui reforçado por uma regressão do amor à fase preliminar sádica, de modo que o ódio adquire um caráter erótico, ficando assegurada a continuidade de uma relação de amor.”
FREUD, S. Capítulo VI: O inconsciente (1915). In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Na prática psicanalítica, porém, estamos habituados a falar de amor, ódio, ira etc. inconscientes, e achamos impossível evitar até mesmo a estranha conjunção ‘consciência inconsciente de culpa’, ou uma ‘ansiedade inconsciente’ paradoxal. Haverá mais sentido em empregar esses termos do que em falar de ‘instintos inconscientes’?”
FREUD, S. Capítulo VIII: Luto e melancolia (1917[1915]). In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A autotortura na melancolia, sem dúvida agradável, significa, do mesmo modo que o fenômeno correspondente na neurose obsessiva, uma satisfação das tendências do sadismo e do ódio relacionadas a um objeto, que retornaram ao próprio eu do indivíduo nas formas que vimos examinando. Via de regra, em ambas as desordens, os pacientes ainda conseguem, pelo caminho indireto da autopunição, vingar-se do objeto original e torturar o ente amado através de sua doença, à qual recorrem a fim de evitar a necessidade de expressar abertamente sua hostilidade para com ele.”
“Na melancolia, em conseqüência, travam-se inúmeras lutas isoladas em torno do objeto, nas quais o ódio e o amor se digladiam; um procura separar a libido do objeto, o outro, defender essa posição da libido contra o assédio. A localização dessas lutas isoladas só pode ser atribuída ao sistema Ics., a região dos traços de memória de coisas (em contraste com as catexias da palavra).”
FREUD, S. Capítulo XI: Reflexões para os tempos de guerra e morte. In: VOL. XIV – A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“…as nações civilizadas se conhecem e se compreendem tão pouco, que uma pode voltar-se contra a outra com ódio e asco.”
“Estes lhes servem, na melhor das hipóteses, como racionalizações de suas paixões; elas exprimem seus interesses a fim de poderem apresentar razões para satisfazerem suas paixões. Sem dúvida, constituem mistério os motivos pelos quais, na coletividade de indivíduos, estes devem de fato desprezar-se, odiar-se e detestar-se mutuamente – cada nação contra outra nação -, inclusive em épocas de paz.”“O exemplo mais facilmente observado e compreensível disso reside no fato de que o amor intenso e o ódio intenso são, com tanta frequência, encontrados juntos na mesma pessoa. A psicanálise acrescenta que esses dois sentimentos opostos, não raramente, têm como objeto a mesma pessoa.”“Realmente, é estranho tanto à nossa inteligência quanto a nossos sentimentos aliar assim o amor ao ódio; mas a Natureza, fazendo uso desse par de opostos, consegue manter o amor sempre vigilante e renovado, a fim de protegê-lo contra o ódio que jaz, à espreita, por detrás dele. Poder-se-ia dizer que devemos as mais belas florações de nosso amor à reação contra o impulso hostil que sentimos dentro de nós.”
FREUD, S. Capítulo I: Teoria geral das neuroses (1917 [1916-17]). In: VOL. XVI – Conferências introdutórias sobre psicanálise (Parte III) (1916-1917). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Este, com novo apoio obtido a partir do sentimento egoístico de haver sido prejudicado, dá fundamento a que os novos irmãos e irmãs sejam recebidos com aversão, e faz com que, sem hesitações, sejam, em desejos, eliminados. Também é verdade que, via de regra, as crianças são muito mais capazes de expressar verbalmente esses sentimentos de ódio, do que aqueles decorrentes do complexo parental. Se um desejo desse tipo se realiza, e se o irmão que se acrescentou à família desaparece novamente, logo depois, devido à sua morte, podemos descobrir, numa análise subsequente, quão importante foi para a criança essa experiência referente à morte, embora ela não tenha necessariamente permanecido fixada em sua memória.”
“No caso de um neurótico, até mesmo surge a questão de saber se esse recuar para o passado é totalmente não-intencional; de ora em diante, teremos de descobrir as razões disso, e teremos de, no geral, considerar atentamente o fato do ‘fantasiar retrospectivo’. Facilmente podemos verificar também que o ódio ao pai é reforçado por diversos fatores que surgem de épocas e circunstâncias posteriores, e que os desejos sexuais dirigidos à mãe assumem formas tais, que devem ter sido estranhos até mesmo para uma criança.”“… a paranoia persecutória é a forma da doença na qual uma pessoa se defende contra um impulso homossexual que se tornou por demais intenso. A mudança de afeição em ódio, a qual, conforme já se sabe, pode tornar-se séria ameaça à vida do objeto amado e odiado, corresponde, nesses casos, à transformação dos impulsos libidinais em ansiedade, que é o resultado constante do processo de repressão.”“Daí podemos concluir que o melancólico, na realidade, retirou do objeto sua libido, mas que, por um processo que devemos chamar de ‘identificação narcísica’, o objeto se estabeleceu no ego, digamos, projetou-se sobre o ego. (Aqui posso apenas fazer-lhes uma descrição figurada e não uma exposição ordenada em linhas topográficas e dinâmicas.) o ego da pessoa então é tratado à semelhança do objeto que foi abandonado e é submetido a todos os atos de agressão e expressões de ódio vingativo, anteriormente dirigidos ao objeto. A tendência do melancólico para o suicídio torna-se mais compreensível se considerarmos que o ressentimento do paciente atinge de um só golpe seu próprio ego e o objeto amado e odiado. Na melancolia, bem como em outros distúrbios narcísicos, emerge, com acento especial, um traço particular na vida emocional do paciente – aquilo que, de acordo com Bleuler, nos acostumamos a descrever como ‘ambivalência’. Com isso queremos significar que estão sendo dirigidos à mesma pessoa sentimentos contrários – amorosos e hostis.”
FREUD, S. Capítulo II: Psicologia de grupo e a análise do ego (1921). In: VOL. XVIII – Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O líder ou a ideia dominante poderiam também, por assim dizer, ser negativos; o ódio contra uma determinada pessoa ou instituição poderia funcionar exatamente da mesma maneira unificadora e evocar o mesmo tipo de laços emocionais que a ligação positiva. Surgiria então a questão de saber se o líder é realmente indispensável à essência de um grupo, e outras ainda, além dessa.”
FREUD, S. Capítulo II: Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo (1922). In: VOL. XVIII – Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Além do mais, é digno de nota que, em certas pessoas, ele é experimentado bissexualmente, isto é, um homem não apenas sofrerá pela mulher que ama e odiará o homem seu rival, mas também sentirá pesar pelo homem, a quem ama inconscientemente, e ódio pela mulher, como sua rival; esse último conjunto de sentimentos adicionar-se-á à intensidade de seu ciúme.”
“A não ser quando nos sentimos inteiramente indiferentes ao passante, quando se pode tratá-lo como se fosse ar e, considerando também o parentesco fundamental dos conceitos de ‘estranho’ e ‘inimigo’, o paranóico não se acha tão errado em considerar essa indiferença como ódio, em contraste com sua reivindicação de amor.”
FREUD, S. Capítulo II: Uma neurose demoníaca do século XVII (1923 [1922]). In: VOL. XIX – O ego e o ID e outros trabalhos (1923-1925). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Se pudéssemos conhecer tanto sobre Christoph Haizmann quanto conhecemos sobre um paciente que faz análise conosco, seria assunto fácil trazer à tona essa ambivalência, fazê-lo recordar quando e em face de quais provocações ele encontrou motivos para temer e odiar o pai, e acima de tudo, descobrir quais foram os fatores acidentais que se acrescentaram aos motivos típicos para o ódio ao pai, inerentes ao relacionamento natural de filho e pai. Talvez pudéssemos então encontrar uma explicação especial para a inibição do pintor no trabalho. É possível que seu pai se tivesse oposto ao seu desejo de se tornar pintor. Se assim foi, sua incapacidade de exercer sua arte após a morte do pai seria, por um lado, expressão do conhecido fenômeno de ‘obediência adiada’ e, por outro, tornando-o incapaz de ganhar a vida, seria compelida a aumentar seu anseio pelo pai como protetor contra os cuidadosda vida. Em seu aspecto de obediência adiada, seria também expressão de remorso e uma autopunição bem-sucedida.”
FREUD, S. Capítulo II: Inibições, sintomas e ansiedade (1926 [1925]). In: VOL. XX – Um estudo autobiográfico, Inibições, sintomas e ansiedade, A questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Ele se encontrava, à época, na atitude edipiana ciumenta e hostil em relação ao pai, a quem, não obstante – salvo até onde a mãe dele era a causa de desavença -, amava ternamente. Aqui, então, temos um conflito devido à ambivalência: um amor bem fundamentado e um ódio não menos justificável dirigidos para a mesmíssima pessoa. A fobia de ‘Little Hans’ deve ter sido uma tentativa de solucionar esse conflito. Conflitos dessa natureza devidos à ambivalência são muito freqüentes epodem ter outro resultado típico, no qual um dos dois sentimentos conflitantes (em geral o da afeição) se torna imensamente intensificado e o outro desaparece.”
FREUD, S. Capítulo II: O mal-estar na civilização (1930 [1929]) . In: VOL. XXI – O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“Não meramente esse estranho é, em geral, indigno de meu amor; honestamente, tenho de confessar que ele possui mais direito a minha hostilidade e, até mesmo, meu ódio. Não parece apresentar o mais leve traço de amor por mim e não demonstra a mínima consideração para comigo.”
“Não há dúvida de que esse caso nos explicaria o segredo do sentimento de culpa e poria fim às nossas dificuldades. E acredito que o faz. Esse remorso constituiu o resultado da ambivalência primordial de sentimentos para com o pai. Seus filhos o odiavam, mas também o amavam. Depois que o ódio foi satisfeito pelo ato de agressão, o amor veio para o primeiro plano, no remorso dos filhos pelo ato. Criou o superego pela identificação com o pai; deu a esse agente o poder paterno, como uma punição pelo ato de agressão que haviam cometido contra aquele, e criou as restrições destinadas a impedir uma repetição do ato.”
FREUD, S. Capítulo VI: Dostoievski e o parricídio (1928 [1927]) . In: VOL. XXI – O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O relacionamento de um menino com o pai é, como dizemos, ‘ambivalente’. Além do ódio que procura livrar-se do pai como rival, certa medida de ternura por ele também está habitualmente presente.”
“O menino entende que também deve submeter-se à castração, se deseja ser amado pelo pai como se fosse uma mulher. Dessa maneira, ambos dos impulsos, o ódio pelo pai e o amor pelo pai, experimentam repressão. Há certa distinção psicológica do fato de o ódio pelo pai ser abandonado por causa do temor a um perigo externo (castração), ao passo que o amor pelo pai é tratado como um perigo interno, embora, fundamentalmente, remonte ao mesmo perigo externo.”
“O que torna inaceitável o ódio pelo pai é o temor a este; a castração é terrível, seja como punição ou como preço do amor. Dos dois fatores que reprimem o ódio pelo pai, o primeiro, ou seja, o medo direto da punição e da castração pode ser chamado de anormal; sua intensificação patogênica só parece surgir com o acréscimo do segundo fator, o temor à atitude feminina. Dessa maneira, uma forte disposição bissexual inata se torna uma das precondições ou reforços da neurose.”
“Mas o que foi dito até agora não esgota as consequências da repressão do ódio pelo pai no complexo de Édipo. Há algo de novo a ser acrescentado, a saber: que, apesar de tudo, a identificação com o pai finalmente constrói um lugar permanente para si mesma no ego. É recebida dentro deste, mas lá se estabelece como um agente separado, em contraste com o restante do conteúdo do ego. Damos-lhe então o nome de superego e atribuímos-lhe, como herdeiro da influência parental, as funções mais importantes.”
FREUD, S. Capítulo X: Sexualidade feminina (1931) . In: VOL. XXI – O Futuro de uma Ilusão, O mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“É apenas na criança do sexo masculino que encontramos a fatídica combinação de amor por um dos pais e, simultaneamente, ódio pelo outro, como rival. No caso dela, é a descoberta da possibilidade de castração, tal como provada pela visão dos órgãos genitais femininos, que impõe ao menino a transformação de seu complexo de Édipo e conduz à criação de seu superego, iniciando assim todos os processos que se destinam a fazer o indivíduo encontrar lugar na comunidade cultural.”
“É característico dos neuróticos obsessivos que, em seus relacionamentos objetais, o amor e o ódio se contrabalancem mutuamente.”
“Não podemos chegar ao ponto de afirmar que a ambivalência de catexias emocionais seja uma lei universalmente válida, e que seja absolutamente impossível sentir grande amor por uma pessoa sem que esse amor seja acompanhado por um ódio talvez igualmente grande, ou vice-versa. Sem dúvida, os adultos normais conseguem separar essas duas atitudes uma da outra, e não estão obrigados a odiar seus objetos amorosos ou a amar seus inimigos tanto quanto a odiá-los.”
FREUD, S. Capítulo III: Por que a guerra? (Einstein e Freud) (1933 [1932]). In: VOL. XXII – Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos (1932-1936). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“De acordo com nossa hipótese, os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir – que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou ‘sexuais’, com uma deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ -; e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo. Como o senhor vê, isto não é senão uma formulação teórica da universalmente conhecida oposição entre amor e ódio, que talvez possa ter alguma relação básica com a polaridade entre atração e repulsão, que desempenha um papel na sua área de conhecimentos. Entretanto, não devemos ser demasiado apressados em introduzir juízos éticos de bem e de mal. Nenhum desses dois instintos é menos essencial do que o outro; os fenômenos da vida surgem da ação confluente ou mutuamente contrária de ambos.”
A palavra indignação na tradução de Freud é muito usada. Para essa busca mantivemos as referencias que a palavra alude à irrupção contraria a dignidade. O uso de indignação em Freud aparece muitas vezes associado à sexualidade e repressão, trazendo uma característica relacionada à ambiguidade prazer e desprazer, bem como consciente e inconsciente. Percebe-se o uso como reverso da dignidade, estando a indignação associada a ignorância, um não querer saber que emerge.
Pesquisa realizada por Giovanna Quaglia.
FREUD, S. Capítulo XI: Atos falhos combinados. In: VOL. VI – Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) o esquecimento dizia mais ou menos o seguinte: ‘Sacrificar dinheiro eternamente por esse inútil vai acabar me arruinando, a ponto de eu ter que abrir mão de tudo. ’ Embora, no dizer dele, sua indignação diante da notícia tivesse sido apenas momentânea, a repetição do mesmo ato sintomático mostra que ela continuou a atuar intensamente no inconsciente (…)”
FREUD, S. B. Parte sintética, V- Os motivos dos chistes: os chistes como processo social. In: Vol. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) uma audiência composta de devotados amigos de um meu adversário receberiam meus felizes excertos de invectiva chistosa contra ele, não como chistes, mas como invectivas e eu me defrontaria com sua indignação antes que com seu prazer. Algum grau de benevolência ou uma espécie de neutralidade, uma ausência de qualquer fator que pudesse provocar sentimentos opostos ao propósito do chiste, constitue a condição indispensável para que uma terceira pessoa colabore na completação do processo de realização do chiste”.
FREUD, S. C. Parte teórica, VII – Os chistes e as espécies do cômico. In: Vol. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) se tomamos o exemplo de um chiste ingênuo como modelo para a outra alternativa (de algo ingênuo que seja objetável) veremos que aí também a economia na inibição pode proceder diretamente da comparação, que não há necessidade de que admitamos uma indignação que se inicia e é então reprimida e que a indignação de fato apenas corresponde à utilização da despesa liberada de outra forma – contra esse fato, no caso dos chistes, há a necessidade de complicadas medidas protetivas”.
FREUD, S. Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen (1907 [1906]). In: Vol. IX – “Gradiva” de Jensen e outros trabalhos (1906-1908). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A jovem descansava sua mão esquerda, de delicados dedos, sobre os joelhos e uma das moscas, cuja inutilidade e impertinência tanta indignação haviam provocado nele, pousou sobre ela. Num movimento súbito, a mão de Hanold elevou-se no ar para se abater com vigor sobre o inseto e sobre a mão de Gradiva. Essa experiência atrevida teve dois resultados: primeiro, a eufórica convicção de ter, sem dúvida alguma, tocado uma mão humana, real, viva e quente, mas logo em seguida uma reprimenda que o fez levantar-se … ”.
FREUD, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides) (1911). In: Vol. XII – O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“[…] certa vez, nas primeiras horas de manhã, enquanto se achava entre o sono e a vigília, ocorreu-lhe a ideia de que, ‘afinal de contas, deve ser realmente muito bom ser mulher e submeter-se ao ato da cópula’. Tratava-se de ideia que teria rejeitado com a maior indignação, se estivesse plenamente consciente”.
“O comportamento de Deus na questão da premência de evacuar (ou ‘c…r’) leva-o a um grau especialmente alto de indignação. A passagem é tão característica que a citarei na íntegra; mas, para esclarecê-la, devo primeiro explicar que tanto os milagres quanto as vozes procedem de Deus, isto é, dos raios divinos”.
“Se recordamos agora o sonho que o paciente teve durante o período de incubação de sua enfermidade, antes de mudar-se para Dresden, tornar-se-á claro, acima de qualquer dúvida, que seu delírio de ser transformado em mulher nada mais era que a realização do conteúdo desse sonho. Naquela época, rebelou-se contra o sonho com máscula indignação, e, da mesma maneira, começou a lutar contra a sua realização na enfermidade e encarou sua transformação em mulher como uma catástrofe porque era ameaçado com intenções hostis”.
FREUD, S. Contribuições a um debate sobre a masturbação (1912). In: Vol. XII O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) penso que podemos distinguir com vantagem o que podemos descrever como prejuízos diretos causados pela masturbação daqueles que resultam indiretamente da resistência e indignação do ego contra essa atividade sexual. Não me interessei por estas últimas consequências. E agora sou obrigado a acrescentar algumas palavras sobre a segunda das duas penosas questões que foram formuladas. Supondo que a masturbação possa ser prejudicial, sob que condições e em que pessoas ela prova sê-lo?”
FREUD, S. SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO (1914). In: Vol. XIV – A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PSICANÁLITICO, ARTIGOS SOBRE A METAPSICOLOGIA E OUTROS TRABALHOS (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A repressão, como dissemos, provém do ego; poderíamos dizer com maior exatidão que provém do amor-próprio do ego. As mesmas impressões, experiências, impulsos e desejos aos quais um homem se entrega, ou que pelo menos elabora conscientemente, serão rejeitados com a maior indignação por outro, ou mesmo abafados antes que entrem na consciência. A diferença entre os dois, que encerra o fator condicionante da repressão, pode ser facilmente expressa em termos que permitem seja ela explicada pela teoria da libido”.
FREUD, S. Um estudo autobiográfico (1925 [1924]). In: Vol. XX – Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997.
“(…) verifica-se que o pensamento isolado é um impulso de desejo, muitas vezes de natureza repelente, que é estranho à vida de vigília daquele que sonha, sendo, em consequência, repudiado por ele com surpresa ou indignação. Esse impulso é o construtor real do sonho: proporciona a energia para sua produção e faz uso dos resíduos diurnos como material”.
FREUD, S. A questão da análise leiga: conversações com uma pessoa imparcial (1926). In: Vol. XX – Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O senhor estará cometendo grave erro se, num esforço talvez de encurtar a análise, lançar suas interpretações na cabeça do paciente logo que as houver encontrado. Dessa maneira o senhor obterá dele expressões de resistência, rejeição e indignação, mas não permitirá que seu ego domine seu material reprimido”.
FREUD, S. Uma experiência religiosa (1928 [1927]). In: Vol. XXI – O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A visão de um cadáver de mulher, nu ou a ponto de ser despido, recordou ao jovem sua mãe. Despertou nele um anseio pela mãe que se originava de seu complexo de Édipo, e isso foi imediatamente completado por um sentimento de indignação contra o pai. Suas idéias de ‘pai’ e ‘Deus’ ainda não se tinham separado inteiramente, de modo que seu desejo de destruir o pai podia tornar-se consciente como dúvida a respeito da existência de Deus e procurar justificar-se aos olhos da razão como indignação com o mau trato dado a um objeto materno. Naturalmente, é típico do filho considerar como mau trato o que o pai faz à mãe nas relações sexuais”.
Lacan – Seminário 1: Os Escritos Técnicos de Freud [1953-1954].
Pesquisa realizada por Mônica Hage.
ÓDIO
LACAN, J. As flutuações da libido. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 209.
“Explicar as coisas assim, quer dizer que é de uma maturação interna ligada à evolução vital do sujeito que depende o preenchimento, e mesmo o transbordamento, da hiância primitiva da libido do sujeito imaturo. A libido pré-genital é o ponto sensível, é o ponto de miragem entre Eros e Thánatos, entre o amor e o ódio. É a maneira mais simples de fazer compreender o papel crucial que desempenha a libido dita de-sexualizada do eu na possibilidade de reversão, de viragem instantânea do ódio em amor, do amor em ódio. É o problema que pareceu colocar a Freud o maior número de dificuldades a resolver – reportem-se ao seu escrito Le Moi et le Soi….”
LACAN, J. Primeiras intervenções sobre Balint. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 235.
“O caráter controla as relações do homem aos seus objetos. O caráter significa sempre uma limitação mais ou menos extensiva das possibilidades de amor e de ódio. Portanto, o caráter significa limitação da capacidade for love and enjoyment, para o amor e para a alegria…”
LACAN, J. A verdade surge da equivocação. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 309.
“Sabemos que a dimensão da transferência existe de cara, implicitamente, antes de qualquer começo de análise, antes que a concubinagem que é a análise a desencadeie. Ora, essas duas possibilidades do amor e do ódio não vão sem essa terceira, que se negligencia, e que não se nomeia entre os componentes primários da transferência – a ignorância enquanto paixão. O sujeito que vem para a análise se coloca entretanto, como tal, na posição daquele que ignora. Nenhuma entrada possível na análise sem essa referência – não se diz isso nunca, não se pensa nisso nunca, quando ela é fundamental.”
LACAN, J. O conceito da análise. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 315-316.
“Bem, o ódio, é a mesma coisa. Há uma dimensão imaginária do ódio, na medida em que a destruição do outro é um pólo da estrutura mesma da relação intersubjetiva. É, eu lhes indiquei, o que Hegel reconhece como o impasse da coexistência de duas consciências, donde ele deduz o seu mito de luta de puro prestígio. Aí mesmo, a dimensão imaginária é enquadrada pela relação simbólica, e é por isso que o ódio não se satisfaz com o desparecimento do adversário. Se o amor aspira ao desenvolvimento do ser do outro, o ódio quer o contrário, seja o seu rebaixamento, seja a sua desorientação, o seu desvio, o seu delírio, a sua negação detalhada, a sua subversão. É nisso que o ódio, como o amor, é uma carreira sem limite”.
“… Não obstante, os sujeitos não têm, nos nossos dias, de assumir o vivido do ódio no que pode ter de mais abrasador. E por quê? Porque já somos muito suficientemente uma civilização do ódio. O caminho da corrida para a destruição não está verdadeiramente bem traçado entre nós? O ódio se reveste no nosso discurso comum de muitos pretextos, encontra racionalizações extraordinariamente fáceis. Talvez seja esse estado de floculação difusa do ódio que satura em nós o apelo à destruição do ser. Como se a objetivação do ser humano na nossa civilização correspondesse exatamente ao que, na estrutura do ego, é o pólo do ódio”.
“Entendam bem que, falando-lhes de amor e de ódio, eu lhes designo as vias da realização do ser, não a realização do ser, mas somente suas vias”.
5 (As formações do inconsciente), 6 (O desejo e sua interpretação), 10 (A angústia) e 18 (De um discurso de que não fosse do semblante)
Pesquisa realizada por Graciela Bessa
ÓDIO
LACAN, J. A significação do falo no tratamento. In.: O Seminário, livro 5: As Formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 452.
No parágrafo anterior, Lacan comenta a linha superior do grafo do desejo.
“É para fixar alguma coisa que falo aqui de amor. O ódio, nesse caso, tem o mesmo lugar. É unicamente nesse horizonte que a ambivalência do ódio e do amor pode ser concebida. É também nesse horizonte que podemos ver chegar ao mesmo ponto um terceiro termo, homólogo do amor e do ódio em relação ao sujeito, que é a ignorância”.
LACAN, J. A mediação fálica do desejo. In.: O Seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2016, p. 139-140.
No parágrafo anterior Lacan está comentando sobre a fantasia de espancamento, “bate-se numa criança”, precisamente a primeira fase: “o pai bate na criança que eu odeio”.
“Eis-nos, portanto, conduzidos por Freud do ponto inicial até o âmago mesmo do ser, ali onde se situa a qualidade mais intensa do amor e do ódio. Com efeito, a outra criança está representada aqui como submetida, pela violência, pelo capricho do pai, ao máximo da degradação, da desvalorização simbólica, como absolutamente frustrada, privada de amor. O ódio a visa no seu ser, visa nela o que é demandado para além de toda demanda, a saber, o amor. A chamada narcísica cometida aqui contra o sujeito odiado é total”.
LACAN, J. De uma função para não escrever. In.: O Seminário, livro 18: De um discurso que não fosse semblante (1971). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 98.
Essa passagem se encontra na discussão que Lacan faz da Carta Roubada.
“O ministro, por ter sido apanhado, foi apanhado, mas isso lhe indiferente […], ou então, se realmente nutrir por ela um desses sentimentos que são da ordem do que chamo, por minha vez, de o único sentimento lúcido, a saber, o ódio, como lhes expliquei muito bem, se ele a odiar, ela só fará amá-lo ainda mais, e isso lhe permitirá ir tão longe que, de todo modo, ele acabará desconfiando que a carta já não existe há muito tempo”.
CÓLERA
LACAN, J. A angústia na rede dos significantes. In.: O Seminário, livro 10: A angústia (1962-1963). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 23.
“A cólera, eu lhes disse, é o que acontece nos sujeitos quando os pininhos não entram nos buraquinhos. O que quer dizer isso? É quando, no nível do Outro, do significante – ou seja, sempre, mais ou menos, no nível da fé, da boa fé –, não se joga o jogo. Pois bem, é isso que provoca a cólera”.
LACAN, J. De uma função para não escrever. In.: O Seminário, livro 18: De um discurso que não fosse semblante (1971). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 97.
“Ou seja, de que, pelo simples fato de ter passado pelas mãos de Dupin, a carta o feminizou, por sua vez, o bastante para que seja exatamente nesse momento que ele não consegue se conter e manifesta uma certa raiva do ministro, o qual acredita já ter posto alguém à sua mercê o bastante para não deixar mais vestígios, mas que é tal que ele, Dupin, sabe tê-lo privado daquilo que poderia permitir-lhe continuar a desempenhar seu papel, se algum dia lhe fosse preciso mostrar suas cartas”.
Referências no Seminário 7: A ética da psicanálise
Pesquisa realizada por Marícia Ciscato
CÓLERA
Lacan, J. O seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. P.129,130.
A psicologia dos afetos, teremos, talvez, um dia, de estudá-la juntos. Gostaria simplesmente, para forçar o caráter inadequado do que foi efetuado nessa ordem até hoje, e especialmente na análise, de propor-lhes incidentemente alguns temas de meditação, por exemplo, sobre um afeto como a cólera. São pequenos exercícios práticos, laterais, que lhes forneço. O emprego das categorias precisas às quais os incito a se referirem poderia, talvez, explicar porque na história da psicologia e da ética, se interessaram tanto pela cólera e porque nos interessamos tão pouco na análise.
O que Descartes, por exemplo, articula sobre a cólera satisfaz plenamente a vocês? A hipótese de trabalho que lhes sugiro, a qual seria preciso ver se cola ou se não cola, é a de que a cólera é certamente uma paixão que se manifesta por meio de tal correlato orgânico ou fisiológico, por meio de tal sentimento mais ou menos hipertônico, e até mesmo relativo, mas que necessita, talvez, como que de uma reação do sujeito a uma decepção, ao fracasso de uma correlação esperada entre uma ordem simbólica e a resposta do real. Em outros termos, a cólera está essencialmente ligada ao que expressa essa fórmula de Péguy, que o disse numa circunstância humorística – é quando as cavilhazinhas não entram nos furinhos.
Reflitam sobre isso e vejam se pode servir-lhes. Isso tem todo tipo de aplicação possível, até mesmo e inclusive de se ver aí o índice de um esboço de organização simbólica do mundo nas raras espécies animais em que se pode efetivamente contestar algo que se assemelhe com a cólera. Pois é bastante surpreendente que a cólera esteja notavelmente ausente do reino animal no conjunto de sua extensão.
Referências em Lacan – Seminário 11
Pesquisa realizada por Carla Fernandes
Lacan, J. (1985 [1963-64]). O Seminário, livro11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Ódio
“A transferência negativa, é-se mais prudente, mais temperado, na maneira que se tem de evocá-la, e não se a identifica jamais com o ódio. Emprega-se antes o termo ambivalência, termo que, mais ainda que o primeiro, mascara muitas coisas, coisas confusas cuja manipulação não é sempre adequada” (p. 120, 1o parágrafo).
“As pulsões nos necessitam na ordem sexual – isso, isso vem do coração. Para nossa maior surpresa, ele (Freud) nos ensina que o amor, do outro lado, ele vem do ventre, é o que é rom-rom.
Isto pode surpreender, mas nos esclarece sobre algo fundamental à experiência analítica, é que a pulsão genital, se ela existe, não é de modo algum articulada com outras pulsões. E isto, malgrado a ambivalência amor-ódio. Em suas premissas, e em seu próprio texto, Freud se contradiz propriamente quando ele nos diz que a ambivalência pode passar por uma das características da reversão da Verkehrung da pulsão. Mas quando ele examina, ele nos diz mesmo que não são de modo algum a mesma coisa, a ambivalência e a reversão” (p. 179, 2o e 3o parágrafos).
“A reversão da pulsão é coisa completamente diferente da variação de ambivalência que faz passar o objeto do campo do ódio ao do campo do amor e inversamente, conforme ele seja ou não aproveitável para o bem-estar do sujeito” (p. 196, 1o parágrafo).
Referências no seminário 17
Pesquisa realizada por Márcia Stival
ÓDIO
LACAN, J. Seminário livro 17 O avesso da psicanálise. Rio de janeiro, Jorge Zahar, 1992, p.128.
“… O analista – chegarei a dizer que pude xperimentá-lo em mim mesmo? -, o analista não tem essa paixão feroz que tanto nos surpreende quando se trata de Yahvé. Yahvé se situa no ponto mais paradoxal em relação a uma outra perspectiva que seria, por exemplo, a do budismo, em que se recomenda purificar-se das três paixões fundamentais, o amor, o ódio e a ignorância…”
CÓLERA
LACAN, J. Seminário livro 17 O avesso da psicanálise. Rio de janeiro, Jorge Zahar, 1992, p. 131.
“O ponto importante é o uso do ‘ich de que falávamos outro dia. A novidade de Oséias, se entendi bem, é, em suma, esse chamado de um tipo bem particular. Espero que todo mundo vá procurar uma pequena Bíblia para ter uma ideia do tom de Oséias. É uma espécie de fúria invectiva, realmente tripudiante, a da palavra de Yahvé falando a seu povo em um longo discurso. Quando falei de Oséias antes de ter o livro de Sellin, disse – Eu, em Oséias, nunca li nada que se pareça nem de longe com o que Sellin achou, mas em compensação assinalei de passagem a importância da invectiva, da imputação de ritos de prostituição sagrada que vai de uma ponta a outra, e em contraposição, uma espécie de exortação pela qual Yavé se declara o esposo. Pode-se dizer que é aí que começa essa longa tradição, bastante misteriosa em si mesma, cujo sentido não me pareceu com evidência que pudéssemos realmente situar, que fez de Cristo o esposo da Igreja, e da Igreja, a esposa de Cristo. Isso começa aqui, não há rastro disso antes de Oséias”.
Lacan – Écrits
Pesquisa realizada por Teresinha N. M. Prado
COLÈRE
Page 103 : Nous pouvons quasiment la mesurer dans la modulation revendicatrice qui soutient parfois tout le discours, dans ses suspensions, ses hésitations, ses inflexions et ses lapsus, dans les inexactitudes du récit, les irrégularités dans l’application de la règle, les retards aux séances, les absences calculées, souvent dans les récriminations, les reproches, les craintes fantasmiques, les réactions émotionnelles de colère, les démonstrations à fin intimidante; les violences proprement dites étant aussi rares que l’impliquent la conjoncture de recours qui a mené au médecin le malade, et sa transformation, acceptée par ce dernier, en une convention de dialogue. L’efficacité propre à cette intention agressive est manifeste nous la constatons couramment dans l’action formatrice d’un individu sur les personnes de sa dépendance : l’agressivité intentionnelle ronge, mine, désagrège; elle châtre; elle conduit à la mort.
Page 110 : THÉSE IV : L’agressivité est la tendance corrélative d’un mode d’identification que nous appelons narcissique et qui détermine la structure formelle du moi de l’homme et du registre d’entités caractéristique de son monde.
L’expérience subjective de l’analyse inscrit aussitôt ses résultats dans la psychologie concrète. Indiquons seulement ce qu’elle apporte à la psychologie des émotions en montrant la signification commune d’états aussi divers que la crainte fantasmatique, la colère, la tristesse active ou la fatigue psychasthénique.
Page 433 : Car le raisin vert de la parole par quoi l’enfant reçoit trop tôt d’un père l’authentification du néant de l’existence, et la grappe de la colère qui répond aux mots de fausse espérance dont sa mère l’a leurré en le nourrissant au lait de son vrai désespoir, agacent plus ses dents que d’avoir été sevré d’une jouissance imaginaire ou même d’avoir été privé de tels soins réels.
Page 450 : Car c’est de cette relation de l’homme au signifiant que les humanités dessinent l’expérience, et c’est en elle que les situations génératrices de ce que nous appelons l’humanité, s’instituent, comme en témoigne le fait que Freud en plein scientisme a été conduit non seulement à reprendre pour notre pensée le mythe d’Œdipe, mais à promouvoir à notre époque un mythe d’origine, sous la forme d’un meurtre du père que la loi primordiale aurait pérennisé, selon la formule dont nous avons connoté l’entrée du symbolisme dans le réel : «en lui donnant un autre sens».
Aussi bien avec toute la contingence que l’instance du signifiant imprime dans l’inconscient, elle n’en dresse que plus sûrement devant nous la dimension que nulle expérience imaginable ne peut nous permettre de déduire de la donnée d’une immanence vivante, à savoir la question de l’être, ou pour mieux dire la question tout court, celle du « pourquoi soi? », par où le sujet projette dans l’énigme son sexe et son existence.
C’est ce qui, dans la même page où je soulignais « dans le drame pathétique de la névrose…, les aspects absurdes d’une symbolisation déconcertée, dont le quiproquo, qu’on le pénètre plus avant, apparaît plus dérisoire », m’a fait écrire, redonnant ici sa portée à l’autorité paternelle telle que Jérémie et Ezéchiel dans le passage ci-devant cité nous la montrent au principe du pacte signifiant, et la conjoignant comme il convient, par les termes bibliques dont use l’auteur femme 1 de l’hymne de bataille américain, à la malédiction de la mère
« Car le raisin vert de la parole par quoi l’enfant reçoit trop tôt d’un père l’authentification du néant de l’existence, et la grappe de la colère qui répond aux mots de fausse espérance dont sa mère l’a leurré en le nourrissant au lait de son vrai désespoir, agacent plus t. Julia Ward Howe.
HAINE
Page 19 : On peut en effet en saisir l’équivalent dans la communion qui s’établit entre deux personnes dans la haine envers un même objet : à ceci près que la rencontre n’est jamais possible que sur un objet seulement, défini par les traits de l’être auquel ]’une et l’autre se refusent.
Mais une telle communication n’est pas transmissible sous la forme symbolique. Elle ne se soutient que dans la relation à cet objet. C’est ainsi qu’elle peut réunir un nombre indéfini de sujets dans un même « idéal » : la communication d’un sujet à l’autre à l’intérieur de la foule ainsi constituée, n’en restera pas moins irréductiblement médiatisée par une relation ineffable.
Page 24 : Le langage rend sa sentence à qui sait l’entendre : par l’usage de l’article employé comme particule partitive. C’est même bien là que l’esprit, si l’esprit est la vivante signification, apparaît non moins singulièrement plus offert à la quantification que la lettre. A commencer par la signification elle-même qui souffre qu’on dise : ce discours plein de signification, de même qu’on reconnaît de l’intention dans un acte, qu’on déplore qu’il n’y ait plus d’amour, qu’on accumule de la haine et qu’on dépense du dévouement, et que tant d’infatuation se raccommode de ce qu’il y aura toujours de la cuisse à revendre et du rififi chez les hommes.
Page 40 : Sans doute voici l’audacieux réduit à l’état d’aveuglement imbécile, où l’homme est vis-à-vis des lettres de muraille qui dictent son destin. Mais quel effet pour l’appeler à leur rencontre, peut-on attendre des seules provocations de la Reine pour un homme tel que lui? L’amour ou la haine. L’un est aveugle et lui fera rendre les armes. L’autre est lucide, mais éveillera ses soupçons. Mais s’il est vraiment le joueur qu’on nous dit, il interrogera, avant de les abattre, une dernière fois ses cartes, et y lisant son jeu, il se lèvera de la table à temps pour éviter la honte.
Pages 308-309 : Freud, rappelons-le, touchant les sentiments qu’on rapporte au transfert, insistait sur la nécessité d’y distinguer un facteur de réalité, et ce serait, concluait-il, abuser de la docilité du sujet que de vouloir le persuader en tous les cas que ces sentiments sont une simple répétition transférentielle de la névrose. Dès lors, comme ces sentiments réels se manifestent comme primaires et que le charme propre de nos personnes reste un facteur aléatoire, il peut sembler qu’il y ait là quelque mystère.
Mais ce mystère s’éclaircit à l’envisager dans la phénoménologie gie du sujet, en tant que le sujet se constitue dans la recherche de la vérité. Il n’est que de recourir aux données traditionnelles que les bouddhistes nous fourniront, s’ils ne sont pas les seuls, pour reconnaître dans cette forme du transfert l’erreur propre de l’existence, et sous trois chefs dont ils font le compte ainsi l’amour, la haine et l’ignorance. C’est donc comme contre-effet du mouvement analytique que nous comprendrons leur équivalence dans ce qu’on appelle un transfert positif à l’origine, – chacun trouvant à s’éclairer des deux autres sous cet aspect existentiel, si l’on n’excepte pas le troisième généralement omis pour sa proximité du sujet.
Page 344 : La conception du phénomène de l’amour-passion comme déterminé par l’image du Moi idéal autant que la question posée de l’imminence en lui de la haine, seront les points à méditer de la période susdite de la pensée freudienne, si l’on veut comprendre comme il convient la relation du moi à l’image de l’autre, telle qu’elle apparaît suffisamment évidente dans le seul titre, conjoignant Psychologie collective et analyse du Moi (1921)1, d’un des articles par où Freud inaugure la dernière période de sa pensée, celle où il achèvera de définir le Moi dans la topique.
Page 346 : Or sans doute l’analyste sait-il, à l’encontre, qu’il ne faut pas qu’il réponde aux appels, si insinuants soient-ils, que le sujet lui fait entendre à cette place, sous peine de voir y prendre corps l’amour de transfert que rien, sauf sa production artificielle, ne distingue de l’amour-passion, les conditions qui l’ont produit venant dès lors à échouer par leur effet, et le discours analytique à se réduire au silence de la présence évoquée. Et l’analyste sait encore qu’à la mesure de la carence de sa réponse, il provoquera chez le sujet l’agressivité, voire la haine, du transfert négatif.
Page 347 : Dès lors, il entrera dans le jeu d’une connivence plus radicale où le modelage du sujet par le Moi de l’analyste ne sera que l’alibi de son narcissisme.
Si la vérité de cette aberration ne s’avouait pas ouvertement dans la théorie qu’on en donne et dont nous avons plus haut relevé les formes, la preuve en serait faite dans les phénomènes qu’un des analystes les mieux formés à l’école d’authenticité de Ferenczi analyse de façon si sensible pour caractéristiques des cas qu’il considère comme terminés : qu’il nous décrive cette ardeur narcissique dont le sujet est consumé et qu’on le presse d’aller éteindre au bain froid de la réalité, ou cette irradiation, dans son adieu, d’une émotion indescriptible, et dont il va jusqu’à noter que l’analyste y participe1. On en trouve la contre-épreuve dans la résignation déçue du même auteur à admettre que certains êtres ne puissent espérer mieux que de se séparer de l’analyste dans la haine.
Page 358 : L’analyste, en effet, ne saurait y entrer qu’à reconnaître en son savoir le symptôme de son ignorance, et ceci au sens proprement analytique que le symptôme est le retour du refoulé dans le compromis, et que le refoulement ici comme ailleurs est censure de la vérité. L’ignorance en effet ne doit pas être entendue ici comme une absence de savoir, mais, à l’égal de l’amour et de la haine, comme une passion de l’être; car elle peut être, à leur instar, une voie où l’être se forme.
C’est bien là qu’est la passion qui doit donner son sens à toute la formation analytique, comme il est évident à seulement s’ouvrir au fait qu’elle structure sa situation.
Page 478 : Dans la conquête du pouvoir, on a largement utilisé la Schadenfreude que satisfait chez l’opprimé l’identification au Führer. Dans une quête de savoir, un certain refus qui se mesure à l’être, au-delà de l’objet, sera le sentiment qui soudera le plus fortement la troupe : ce sentiment est connaissance, sous une forme pathétique, en lui l’on communie sans communiquer, et il s’appelle la haine.
Pages 506-507 : Sa gerbe n’était pas avare ni haineuse… (…)
Dans le vers de Hugo, il est manifeste qu’il ne jaillit pas la moindre lumière de l’attestation qu’une gerbe ne soit pas avare ni haineuse, pour la raison qu’il n’est pas question qu’elle ait le mérite plus que le démérite de ces attributs, l’un et l’autre étant avec elle propriétés de Booz qui les exerce à disposer d’elle, sans lui faire part de ses sentiments.
Si sa gerbe renvoie à Booz, comme c’est bien le cas pourtant, c’est de se substituer à lui dans la chaîne signifiante, à la place même qui l’attendait d’être exhaussée d’un degré par le déblaiement de l’avarice et de la haine. Mais dès lors c’est de Booz que la gerbe a fait cette place nette, rejeté qu’il est maintenant dans les ténèbres du dehors où l’avarice et la haine l’hébergent dans le creux de leur négation.
Mais une fois que sa gerbe a ainsi usurpé sa place, Booz ne saurait y revenir, le mince fil du petit sa qui l’y rattache y étant un obstacle de plus, à lier ce retour d’un titre de possession qui le retiendrait au sein de l’avarice et de la haine. Sa générosité affirmée se voit réduite à moins que rien par la munificence de la gerbe qui, d’être prise à la nature, ne connaît pas notre réserve et nos rejets, et même dans son accumulation reste prodigue pour notre aune. Mais si dans cette profusion le donateur a disparu avec le don, c’est pour resurgir dans ce qui entoure la figure où il s’est annihilé. Car c’est le rayonnement de la fécondité, – qui annonce la surprise que célèbre le poème, à savoir la promesse que le vieillard va recevoir dans un contexte sacré de son avènement à la paternité. C’est donc entre le signifiant du nom propre d’un homme et celui qui l’abolit métaphoriquement, que se produit l’étincelle poétique, ici d’autant plus efficace à réaliser la signification de la paternité qu’elle reproduit l’événement mythique où Freud a reconstruit le cheminement, dans l’inconscient de tout homme, du mystère paternel.
Page 627 : Le désir est ce qui se manifeste dans l’intervalle que creuse la demande en deçà d’elle-même, pour autant que le sujet en articulant la chaîne signifiante, amène au jour le manque à être avec l’appel d’en recevoir le complément de l’Autre, si l’Autre, lieu de la parole, est aussi le lieu de ce manque.
Ce qui est ainsi donné à l’Autre de combler et qui est proprement ce qu’il n’a pas, puisque à lui aussi l’être manque, est ce qui s’appelle l’amour, mais c’est aussi la haine et l’ignorance.
C’est aussi, passions de l’être, ce qu’évoque toute demande au-delà du besoin qui s’y articule, et c’est bien ce dont le sujet reste d’autant plus proprement privé que le besoin articulé dans la demande est satisfait.
Page 628 : 10. Mais l’enfant ne s’endort pas toujours ainsi dans le sein de l’être, surtout si l’Autre qui a aussi bien ses idées sur ses besoins, s’en mêle, et à la place de ce qu’il n’a pas, le gave de la bouillie étouffante de ce qu’il a, c’est-à-dire confond ses soins avec le don de son amour.
C’est l’enfant que l’on nourrit avec le plus d’amour qui refuse la nourriture et joue de son refus comme d’un désir (anorexie mentale).
Confins où l’on saisit comme nulle part que la haine rend la monnaie de l’amour, mais où c’est l’ignorance qui n’est pas pardonnée.
En fin de compte, l’enfant en refusant de satisfaire à la demande de la mère, n’exige-t-il pas que la mère ait un désir en dehors de lui, parce que c’est là la voie qui lui manque vers le désir?
Page 679 : Le désir se produit dans l’au-delà de la demande, de ce qu’en articulant la vie du sujet à ses conditions, elle y émonde le besoin, mais aussi il se creuse dans son en-deçà, en ce que, demande inconditionnelle de la présence et de l’absence, elle évoque le manque à être sous les trois figures du rien qui fait le fonds de la demande d’amour, de la haine qui va à nier l’être de l’autre et de l’indicible de ce qui s’ignore dans sa requête. Dans cette aporie incarnée dont on peut dire en image qu’elle emprunte son âme lourde aux rejetons vivaces de la tendance blessée, et son corps subtil à la mort actualisée dans la séquence signifiante, le désir s’affirme comme condition absolue.
Moins encore que le rien qui passe dans la ronde des significations qui agitent les hommes, il est le sillage inscrit de la course, et comme la marque du fer du signifiant à l’épaule du sujet qui parle. Il est moins passion pure du signifié que pure action du signifiant, qui s’arrête, au moment où le vivant devenu signe, la rend insignifiante.
Page 786 : Des imprévisibles quanta dont l’atome amour-haine se moire au voisinage de la Chose d’où l’homme émerge par un cri, ce qui s’éprouve, passées certaines limites, n’a rien à faire avec ce dont le désir se supporte dans le fantasme qui justement se constitue de ces limites.
Page 825 : C’est ainsi qu’à montrer son objet comme châtré, Alcibiade parade comme désirant, – la chose n’échappe pas à Socrate -, pour un autre présent parmi les assistants, Agathon, que Socrate précurseur de l’analyse, et aussi bien, sûr de son affaire en ce beau monde, n’hésite pas à nommer comme objet du transfert, mettant au jour d’une interprétation le fait que beaucoup d’analystes ignorent encore : que l’effet amour-haine dans la situation psychanalytique se trouve au dehors.
Page 892 : Après quoi, il nous faudra rappeler que tout blablabla que soit essentiellement le langage, c’est de lui pourtant que procèdent l’avoir et l’être.
Ce sur quoi jouant la métaphore par nous-même choisie dans l’article cité tout à l’heure’, nommément : « Sa gerbe n’était pas avare ni haineuse » de Booz endormi, ce n’est pas chanson vaine qu’elle évoque le lien qui, chez le riche, unit la position d’avoir au refus inscrit dans son être. Car c’est là impasse de l’amour. Et sa négation même ne ferait rien de plus ici, nous le savons, que la poser, si la métaphore qu’introduit la substitution de « sa gerbe » au sujet, ne faisait surgir le seul objet dont l’avoir nécessite le manque à l’être : le phallus, autour de quoi roule tout le poème jusqu’à son dernier tour.
HAIS
Page 541 : Que Freud, dans son essai d’interprétation du cas du président Schreber, qu’on lit mal à le réduire aux rabâchages qui ont suivi, emploie la forme d’une déduction grammaticale pour y présenter l’aiguillage de la relation à l’autre dans la psychose : soit les différents moyens de nier la proposition : Je l’aime, dont il s’ensuit, que ce jugement négatif se structure en deux temps : le premier, le renversement de la valeur du verbe : Je le hais, ou d’inversion du genre de l’agent ou de l’objet : ce n’est pas moi, ou bien ce n’est pas lui, c’est elle (ou inversement), – le deuxième d’interversion des sujets : il me hait, c’est elle qu’il aime, c’est elle qui m’aime, – les problèmes logiques formellement impliqués dans cette déduction ne retiennent personne.
DIGN – pesquisa pelo radical da palavra ‘in-dign-ação’ e derivações
Page 14 : Dupin à donner un libellé à sa lettre factice. Quoi qu’il en soit, le ministre, quand il voudra en faire usage, pourra y lire ces mots tracés pour qu’il y reconnaisse la main de Dupin :
… Un dessein si funeste
S’il n’est digne d’Atrée, est digne de Thyeste.
que Dupin nous indique provenir de l’Atrée de Crébillon.
Est-il besoin que nous soulignions que ces deux actions sont semblables? Oui, car la similitude que nous visons n’est pas faite de la simple réunion de traits choisis à la seule fin d’appareiller leur différence. Et il ne suffirait pas de retenir ces traits de ressemblance aux dépens des autres pour qu’il en résulte une vérité quelconque. C’est l’intersubjectivité où les deux actions se motivent que nous voulons relever, et les trois termes dont elle les structure. Le privilège de ceux-ci se juge à ce qu’ils répondent à la fois aux trois temps logiques par quoi la décision se précipite, et aux trois places qu’elle assigne aux sujets qu’elle départage.
Page 33 : L’ascendant que le ministre tire de la situation ne tient donc pas à la lettre, mais, qu’il le sache ou non, au personnage qu’elle lui constitue. Et aussi bien les propos du Préfet nous le présentent-ils comme quelqu’un à tout oser, who dores ail things, et l’on commente significativement : those unbecoming as well as those becoming a man ce qui veut dire : ce qui est indigne aussi bien que ce qui est digne d’un homme, et ce dont Baudelaire laisse échapper la pointe en le traduisant : ce qui est indigne d’un homme aussi bien que ce qui est digne de lui. Car dans sa forme originale, l’appréciation est beaucoup plus appropriée à ce qui intéresse une femme.
Page 38 : On se souvient du spirituel distique attribué avant sa chute au plus récent en date à avoir rallié le rendez-vous de Candide à Venise
I! n’est plus aujourd’hui que cinq rois sur la terre, Les quatre rois des cartes et le roi d’Angleterre.
s. Ce propos a été avoué en termes clairs par un noble Lord parlant à la Chambre Haute où sa dignité lui donnait sa place.
Page 40 : … Un destin si funeste,
S’il n’est digne d’Atrée, est digne de Thyeste.
Telle est la réponse du signifiant au-delà de toutes les significations :
« Tu crois agir quand je t’agite au gré des liens dont je noue tes désirs. Ainsi ceux-ci croissent-ils en forces et se multiplient-ils en objets qui te ramènent au morcellement de ton enfance déchirée. Eh bien, c’est là ce qui sera ton festin jusqu’au retour de l’invité de pierre, que je serai pour toi puisque tu m’évoques. »
Pour retrouver un ton plus tempéré, disons selon le canular, dont, avec certains d’entre vous qui nous avaient suivi au Congrès de Zurich l’année dernière, nous avions fait l’hommage au mot de passe de l’endroit, que la réponse du signifiant à celui qui l’interroge est : « Mange ton Dasein. »
Est-ce donc là ce qui attend le ministre à un rendez-vous fatidique. Dupin nous l’assure, mais nous avons aussi appris à nous défendre d’être à ses diversions trop crédules.
Sans doute voici l’audacieux réduit à l’état d’aveuglement imbécile, où l’homme est vis-à-vis des lettres de muraille qui dictent son destin. Mais quel effet pour l’appeler à leur rencontre, peut-on attendre des seules provocations de la Reine pour un homme tel que lui? L’amour ou la haine. L’un est aveugle et lui fera rendre les armes. L’autre est lucide, mais éveillera ses soupçons. Mais s’il est vraiment le joueur qu’on nous dit, il interrogera, avant de les abattre, une dernière fois ses cartes, et y lisant son jeu, il se lèvera de la table à temps pour éviter la honte.
Page 93 : La conception du stade du miroir que j’ai introduite à notre dernier congrès, il y a treize ans, pour être depuis plus ou moins passée dans l’usage du groupe français, ne m’a pas paru indigne d’être rappelée à votre attention : aujourd’hui spécialement quant aux lumières qu’elle apporte sur la fonction du je dans l’expérience que nous en donne la psychanalyse. Expérience dont il faut dire qu’elle nous oppose à toute philosophie issue directement du cogito.
Page 107 : Nous voulons éviter une embûche, que recèle déjà cet appel, marqué du pathétique éternel de la foi, que le malade nous adresse. Il comporte un secret. « Prends sur toi, nous dit-on, ce mal qui pèse sur mes épaules; mais, tel que je te vois repu, rassis et confortable, tu ne peux pas être digne de le porter. »
Ce qui apparaît ici comme revendication orgueilleuse de la souffrance montrera son visage – et parfois à un moment assez décisif pour entrer dans cette « réaction thérapeutique négative » qui a retenu l’attention de Freud – sous la forme de cette résistance de l’amour-propre, pour prendre ce terme dans toute la profondeur que lui a donnée La Rochefoucauld, et qui souvent s’avoue ainsi : « Je ne puis accepter la pensée d’être libéré par un autre que par moi-même. »
Certes, en une plus insondable exigence du cœur, c’est la participation à son mal que le malade attend de nous. Mais c’est la réaction hostile qui guide notre prudence et qui déjà inspirait à Freud sa mise en garde contre toute tentation de jouer au prophète. Seuls les saints sont assez détachés de la plus profonde des passions communes pour éviter les contrecoups agressifs de la charité.
Page 135 : Observons ici la manifestation spontanée de ce ressort dans la conduite du criminel, et le transfert qui, tend à se produire sur la personne de son juge, comme les preuves en seraient faciles à recueillir. Citons seulement pour la beauté du fait les confidences du nommé Frank au psychiatre Gilbert chargé de la bonne présentation des accusés au procès de Nuremberg : ce Machiavel dérisoire, et névrosique à point pour que l’ordre insensé du fascisme lui confiât ses hautes œuvres, sentait le remords agiter son âme au seul aspect de dignité incarné dans la figure de ses juges, particulièrement celle du juge anglais, « si élégant », disait-il.
Les résultats obtenus avec des criminels « majeurs » par Melitta Schmiedeberg, encore que leur publication se heurte à l’obstacle que rencontrent toutes nos cures, mériteraient d’être suivis dans leur catamnèse.
Page 267 : Car il ne se résout pas dans les efforts de certains qui, – semblables à ces philosophes que Platon raille de ce que leur appétit du réel les menât à embrasser les arbres -, vont à prendre tout épisode où pointe cette réalité qui se dérobe, pour la réaction vécue dont ils se montrent si friands. Car ce sont ceux-là mêmes qui, se donnant pour objectif ce qui est au-delà du langage, réagissent à la « défense de toucher » inscrite en notre règle par une sorte d’obsession. Nul doute que, dans cette voie, se flairer réciproquement ne devienne le fin du fin de la réaction de transfert. Nous n’exagérons rien : un jeune psychanalyste en son travail de candidature peut de nos jours saluer dans une telle subodoration de son sujet, obtenue après deux ou trois ans de psychanalyse vaine, l’avènement attendu de la relation d’objet, et en recueillir le dignus est intrare de nos suffrages, garants de ses capacités.
Si la psychanalyse peut devenir une science, – car elle ne l’est pas encore -, et si elle ne doit pas dégénérer dans sa technique, – et peut-être est-ce déjà fait -, nous devons retrouver le sens de son expérience.
Page 476 : L’opposition de l’insuffisance, que suggère un pur formalisme, est insoutenable dialectiquement. La moindre assomption de la suffisance éjecte l’insuffisance de son champ, mais aussi bien la pensée de l’insuffisance comme d’une catégorie de l’être exclut-elle radicalement de toutes les autres la Suffisance. C’est l’une ou l’autre, incompatiblement.
Il nous faut une catégorie qui, saris impliquer l’indignité, indique qu’être hors de la suffisance, c’est là sa place, et qu’on se qualifie pour l’occuper à s’y tenir. Par où la dénomination de Petits Souliers, pour ceux qui s’y rangent, nous paraît bonne, car outre qu’elle fait image assez pour que dans une assemblée on les distingue aisément, elle les définit par ce maintien : ils sont toujours dans leurs petits souliers, et dans le fait qu’ils s’en arrangent, manifestent une suffisance voilée de son opposition à la Suffisance.
Entre la position ainsi marquée et la Suffisance, il reste pourtant un hiatus qu’aucune transition ne peut combler. Et l’échelon qui la simule dans la hiérarchie, n’est là que trompe-l’œil.
Page 501 : Arrêtons-nous là. On dirait l’histoire de France. Plus humaine, comme de juste, à s’évoquer ici que celle d’Angleterre, vouée à culbuter du Gros au Petit Bout de l’œuf du Doyen Swift.
Reste à concevoir quel marchepied et quel couloir l’S du signifiant, visible ici dans les pluriels dont il centre ses accueils au-delà de la vitre, doit franchir pour porter ses coudes aux canalisations par où, comme l’air chaud et l’air froid, l’indignation et le mépris viennent à souffler en deçà.
Une chose est certaine, c’est que cet accès en tout cas ne doit comporter aucune signification, si l’algorithme S avec sa barre s
lui convient. Car l’algorithme, en tant qu’il n’est lui-même que pure fonction du signifiant, ne peut révéler qu’une structure de signifiant à ce transfert.
Page 528 : C’est pour empêcher que ne tombe en friche le champ dont ils ont l’héritage, et pour cela leur faire entendre que si le symptôme est une métaphore, ce n’est pas une métaphore que de le dire, non plus que de dire que le désir de l’homme est une métonymie. Car le symptôme est une métaphore, que l’on veuille ou non se le dire, comme le désir est une métonymie, même si l’homme s’en gausse.
Aussi bien pour que je vous invite à vous indigner qu’après tant de siècles d’hypocrisie religieuse et d’esbrouffe philosophique, rien n’ait été encore valablement articulé de ce qui lie la métaphore à la question de l’être et la métonymie à son manque, – faudrait-il que, de l’objet de cette indignation en tant que fauteur et que victime, quelque chose soit encore là pour y répondre à savoir l’homme de l’humanisme et la créance, irrémédiablement protestée, qu’il a tirée sur ses intentions.
Page 567 : (já utilizada)
Sans doute n’eût-il pas trois ans après (1911-1914) manqué le vrai ressort du renversement de la position d’indignation, que soulevait d’abord en la personne du sujet l’idée de l’Entmannung c’est très précisément que dans l’intervalle le sujet était mort. C’est du moins l’événement que les voix, toujours renseignées aux bonnes sources et toujours égales à elles-mêmes dans leur service d’information, lui firent connaître après coup avec sa date et le nom du journal dans lequel il était passé à la rubrique nécrologique.
Page 612 : Nous voulons faire entendre que c’est à la mesure des impasses éprouvées à saisir leur action dans son authenticité que les chercheurs comme les groupes, viennent à la forcer dans le sens de l’exercice d’un pouvoir.
Ce pouvoir, ils le substituent à la relation à l’être où cette action prend place, faisant déchoir ses moyens, nommément ceux de la parole, de leur éminence véridique. C’est pourquoi c’est bien une sorte de retour du refoulé, si étrange soit-elle, qui, des prétentions les moins disposées à s’embarrasser de la dignité de ces moyens, fait s’élever ce pataquès d’un recours à l’être comme à une donnée du réel, quand le discours qui y règne, rejette toute interrogation qu’une platitude superbe n’aurait pas déjà reconnue.
Pages 637-38 : Car le paradoxe du désir n’est pas le privilège du névrosé, mais c’est plutôt qu’il tienne compte de l’existence du paradoxe dans sa façon de l’affronter. Ceci ne le classe pas si mal dans l’ordre de la dignité humaine, et ne fait pas honneur aux analystes médiocres (ceci n’est pas une appréciation, mais un idéal formulé dans un vœu formel des intéressés), qui sur ce point n’atteignent pas à cette dignité : surprenante distance qu’ont toujours notée à mots couverts les analystes… autres, sans qu’on sache comment distinguer ceux-ci, puisque eux n’auraient jamais songé à le faire d’eux-mêmes, s’ils n’avaient eu d’abord à s’opposer au dévoiement des premiers.