A palavra indignação na tradução de Freud é muito usada. Para essa busca mantivemos as referencias que a palavra alude à irrupção contraria a dignidade. O uso de indignação em Freud aparece muitas vezes associado à sexualidade e repressão, trazendo uma característica relacionada à ambiguidade prazer e desprazer, bem como consciente e inconsciente. Percebe-se o uso como reverso da dignidade, estando a indignação associada a ignorância, um não querer saber que emerge.
Pesquisa realizada por Giovanna Quaglia.
FREUD, S. Capítulo XI: Atos falhos combinados. In: VOL. VI – Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) o esquecimento dizia mais ou menos o seguinte: ‘Sacrificar dinheiro eternamente por esse inútil vai acabar me arruinando, a ponto de eu ter que abrir mão de tudo. ’ Embora, no dizer dele, sua indignação diante da notícia tivesse sido apenas momentânea, a repetição do mesmo ato sintomático mostra que ela continuou a atuar intensamente no inconsciente (…)”
FREUD, S. B. Parte sintética, V- Os motivos dos chistes: os chistes como processo social. In: Vol. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) uma audiência composta de devotados amigos de um meu adversário receberiam meus felizes excertos de invectiva chistosa contra ele, não como chistes, mas como invectivas e eu me defrontaria com sua indignação antes que com seu prazer. Algum grau de benevolência ou uma espécie de neutralidade, uma ausência de qualquer fator que pudesse provocar sentimentos opostos ao propósito do chiste, constitue a condição indispensável para que uma terceira pessoa colabore na completação do processo de realização do chiste”.
FREUD, S. C. Parte teórica, VII – Os chistes e as espécies do cômico. In: Vol. VIII – Os chistes e sua relação com o inconsciente (1905). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) se tomamos o exemplo de um chiste ingênuo como modelo para a outra alternativa (de algo ingênuo que seja objetável) veremos que aí também a economia na inibição pode proceder diretamente da comparação, que não há necessidade de que admitamos uma indignação que se inicia e é então reprimida e que a indignação de fato apenas corresponde à utilização da despesa liberada de outra forma – contra esse fato, no caso dos chistes, há a necessidade de complicadas medidas protetivas”.
FREUD, S. Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen (1907 [1906]). In: Vol. IX – “Gradiva” de Jensen e outros trabalhos (1906-1908). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A jovem descansava sua mão esquerda, de delicados dedos, sobre os joelhos e uma das moscas, cuja inutilidade e impertinência tanta indignação haviam provocado nele, pousou sobre ela. Num movimento súbito, a mão de Hanold elevou-se no ar para se abater com vigor sobre o inseto e sobre a mão de Gradiva. Essa experiência atrevida teve dois resultados: primeiro, a eufórica convicção de ter, sem dúvida alguma, tocado uma mão humana, real, viva e quente, mas logo em seguida uma reprimenda que o fez levantar-se … ”.
FREUD, S. Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides) (1911). In: Vol. XII – O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“[…] certa vez, nas primeiras horas de manhã, enquanto se achava entre o sono e a vigília, ocorreu-lhe a ideia de que, ‘afinal de contas, deve ser realmente muito bom ser mulher e submeter-se ao ato da cópula’. Tratava-se de ideia que teria rejeitado com a maior indignação, se estivesse plenamente consciente”.
“O comportamento de Deus na questão da premência de evacuar (ou ‘c…r’) leva-o a um grau especialmente alto de indignação. A passagem é tão característica que a citarei na íntegra; mas, para esclarecê-la, devo primeiro explicar que tanto os milagres quanto as vozes procedem de Deus, isto é, dos raios divinos”.
“Se recordamos agora o sonho que o paciente teve durante o período de incubação de sua enfermidade, antes de mudar-se para Dresden, tornar-se-á claro, acima de qualquer dúvida, que seu delírio de ser transformado em mulher nada mais era que a realização do conteúdo desse sonho. Naquela época, rebelou-se contra o sonho com máscula indignação, e, da mesma maneira, começou a lutar contra a sua realização na enfermidade e encarou sua transformação em mulher como uma catástrofe porque era ameaçado com intenções hostis”.
FREUD, S. Contribuições a um debate sobre a masturbação (1912). In: Vol. XII O caso Schereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos (1911-1913). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“(…) penso que podemos distinguir com vantagem o que podemos descrever como prejuízos diretos causados pela masturbação daqueles que resultam indiretamente da resistência e indignação do ego contra essa atividade sexual. Não me interessei por estas últimas consequências. E agora sou obrigado a acrescentar algumas palavras sobre a segunda das duas penosas questões que foram formuladas. Supondo que a masturbação possa ser prejudicial, sob que condições e em que pessoas ela prova sê-lo?”
FREUD, S. SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO (1914). In: Vol. XIV – A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PSICANÁLITICO, ARTIGOS SOBRE A METAPSICOLOGIA E OUTROS TRABALHOS (1914-1916). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A repressão, como dissemos, provém do ego; poderíamos dizer com maior exatidão que provém do amor-próprio do ego. As mesmas impressões, experiências, impulsos e desejos aos quais um homem se entrega, ou que pelo menos elabora conscientemente, serão rejeitados com a maior indignação por outro, ou mesmo abafados antes que entrem na consciência. A diferença entre os dois, que encerra o fator condicionante da repressão, pode ser facilmente expressa em termos que permitem seja ela explicada pela teoria da libido”.
FREUD, S. Um estudo autobiográfico (1925 [1924]). In: Vol. XX – Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997.
“(…) verifica-se que o pensamento isolado é um impulso de desejo, muitas vezes de natureza repelente, que é estranho à vida de vigília daquele que sonha, sendo, em consequência, repudiado por ele com surpresa ou indignação. Esse impulso é o construtor real do sonho: proporciona a energia para sua produção e faz uso dos resíduos diurnos como material”.
FREUD, S. A questão da análise leiga: conversações com uma pessoa imparcial (1926). In: Vol. XX – Um estudo autobiográfico, inibições, sintomas e ansiedade, a questão da análise leiga e outros trabalhos (1925-1926). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“O senhor estará cometendo grave erro se, num esforço talvez de encurtar a análise, lançar suas interpretações na cabeça do paciente logo que as houver encontrado. Dessa maneira o senhor obterá dele expressões de resistência, rejeição e indignação, mas não permitirá que seu ego domine seu material reprimido”.
FREUD, S. Uma experiência religiosa (1928 [1927]). In: Vol. XXI – O futuro de uma ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos (1927-1931). Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. São Paulo: Novo Disc Brasil, 1997, sob licença de Imago, Rio de Janeiro, 1997.
“A visão de um cadáver de mulher, nu ou a ponto de ser despido, recordou ao jovem sua mãe. Despertou nele um anseio pela mãe que se originava de seu complexo de Édipo, e isso foi imediatamente completado por um sentimento de indignação contra o pai. Suas idéias de ‘pai’ e ‘Deus’ ainda não se tinham separado inteiramente, de modo que seu desejo de destruir o pai podia tornar-se consciente como dúvida a respeito da existência de Deus e procurar justificar-se aos olhos da razão como indignação com o mau trato dado a um objeto materno. Naturalmente, é típico do filho considerar como mau trato o que o pai faz à mãe nas relações sexuais”.
Lacan – Seminário 1: Os Escritos Técnicos de Freud [1953-1954].
Pesquisa realizada por Mônica Hage.
ÓDIO
LACAN, J. As flutuações da libido. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 209.
“Explicar as coisas assim, quer dizer que é de uma maturação interna ligada à evolução vital do sujeito que depende o preenchimento, e mesmo o transbordamento, da hiância primitiva da libido do sujeito imaturo. A libido pré-genital é o ponto sensível, é o ponto de miragem entre Eros e Thánatos, entre o amor e o ódio. É a maneira mais simples de fazer compreender o papel crucial que desempenha a libido dita de-sexualizada do eu na possibilidade de reversão, de viragem instantânea do ódio em amor, do amor em ódio. É o problema que pareceu colocar a Freud o maior número de dificuldades a resolver – reportem-se ao seu escrito Le Moi et le Soi….”
LACAN, J. Primeiras intervenções sobre Balint. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 235.
“O caráter controla as relações do homem aos seus objetos. O caráter significa sempre uma limitação mais ou menos extensiva das possibilidades de amor e de ódio. Portanto, o caráter significa limitação da capacidade for love and enjoyment, para o amor e para a alegria…”
LACAN, J. A verdade surge da equivocação. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 309.
“Sabemos que a dimensão da transferência existe de cara, implicitamente, antes de qualquer começo de análise, antes que a concubinagem que é a análise a desencadeie. Ora, essas duas possibilidades do amor e do ódio não vão sem essa terceira, que se negligencia, e que não se nomeia entre os componentes primários da transferência – a ignorância enquanto paixão. O sujeito que vem para a análise se coloca entretanto, como tal, na posição daquele que ignora. Nenhuma entrada possível na análise sem essa referência – não se diz isso nunca, não se pensa nisso nunca, quando ela é fundamental.”
LACAN, J. O conceito da análise. In: O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986, p. 315-316.
“Bem, o ódio, é a mesma coisa. Há uma dimensão imaginária do ódio, na medida em que a destruição do outro é um pólo da estrutura mesma da relação intersubjetiva. É, eu lhes indiquei, o que Hegel reconhece como o impasse da coexistência de duas consciências, donde ele deduz o seu mito de luta de puro prestígio. Aí mesmo, a dimensão imaginária é enquadrada pela relação simbólica, e é por isso que o ódio não se satisfaz com o desparecimento do adversário. Se o amor aspira ao desenvolvimento do ser do outro, o ódio quer o contrário, seja o seu rebaixamento, seja a sua desorientação, o seu desvio, o seu delírio, a sua negação detalhada, a sua subversão. É nisso que o ódio, como o amor, é uma carreira sem limite”.
“… Não obstante, os sujeitos não têm, nos nossos dias, de assumir o vivido do ódio no que pode ter de mais abrasador. E por quê? Porque já somos muito suficientemente uma civilização do ódio. O caminho da corrida para a destruição não está verdadeiramente bem traçado entre nós? O ódio se reveste no nosso discurso comum de muitos pretextos, encontra racionalizações extraordinariamente fáceis. Talvez seja esse estado de floculação difusa do ódio que satura em nós o apelo à destruição do ser. Como se a objetivação do ser humano na nossa civilização correspondesse exatamente ao que, na estrutura do ego, é o pólo do ódio”.
“Entendam bem que, falando-lhes de amor e de ódio, eu lhes designo as vias da realização do ser, não a realização do ser, mas somente suas vias”.
5 (As formações do inconsciente), 6 (O desejo e sua interpretação), 10 (A angústia) e 18 (De um discurso de que não fosse do semblante)
Pesquisa realizada por Graciela Bessa
ÓDIO
LACAN, J. A significação do falo no tratamento. In.: O Seminário, livro 5: As Formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 452.
No parágrafo anterior, Lacan comenta a linha superior do grafo do desejo.
“É para fixar alguma coisa que falo aqui de amor. O ódio, nesse caso, tem o mesmo lugar. É unicamente nesse horizonte que a ambivalência do ódio e do amor pode ser concebida. É também nesse horizonte que podemos ver chegar ao mesmo ponto um terceiro termo, homólogo do amor e do ódio em relação ao sujeito, que é a ignorância”.
LACAN, J. A mediação fálica do desejo. In.: O Seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2016, p. 139-140.
No parágrafo anterior Lacan está comentando sobre a fantasia de espancamento, “bate-se numa criança”, precisamente a primeira fase: “o pai bate na criança que eu odeio”.
“Eis-nos, portanto, conduzidos por Freud do ponto inicial até o âmago mesmo do ser, ali onde se situa a qualidade mais intensa do amor e do ódio. Com efeito, a outra criança está representada aqui como submetida, pela violência, pelo capricho do pai, ao máximo da degradação, da desvalorização simbólica, como absolutamente frustrada, privada de amor. O ódio a visa no seu ser, visa nela o que é demandado para além de toda demanda, a saber, o amor. A chamada narcísica cometida aqui contra o sujeito odiado é total”.
LACAN, J. De uma função para não escrever. In.: O Seminário, livro 18: De um discurso que não fosse semblante (1971). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 98.
Essa passagem se encontra na discussão que Lacan faz da Carta Roubada.
“O ministro, por ter sido apanhado, foi apanhado, mas isso lhe indiferente […], ou então, se realmente nutrir por ela um desses sentimentos que são da ordem do que chamo, por minha vez, de o único sentimento lúcido, a saber, o ódio, como lhes expliquei muito bem, se ele a odiar, ela só fará amá-lo ainda mais, e isso lhe permitirá ir tão longe que, de todo modo, ele acabará desconfiando que a carta já não existe há muito tempo”.
CÓLERA
LACAN, J. A angústia na rede dos significantes. In.: O Seminário, livro 10: A angústia (1962-1963). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 23.
“A cólera, eu lhes disse, é o que acontece nos sujeitos quando os pininhos não entram nos buraquinhos. O que quer dizer isso? É quando, no nível do Outro, do significante – ou seja, sempre, mais ou menos, no nível da fé, da boa fé –, não se joga o jogo. Pois bem, é isso que provoca a cólera”.
LACAN, J. De uma função para não escrever. In.: O Seminário, livro 18: De um discurso que não fosse semblante (1971). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 97.
“Ou seja, de que, pelo simples fato de ter passado pelas mãos de Dupin, a carta o feminizou, por sua vez, o bastante para que seja exatamente nesse momento que ele não consegue se conter e manifesta uma certa raiva do ministro, o qual acredita já ter posto alguém à sua mercê o bastante para não deixar mais vestígios, mas que é tal que ele, Dupin, sabe tê-lo privado daquilo que poderia permitir-lhe continuar a desempenhar seu papel, se algum dia lhe fosse preciso mostrar suas cartas”.
Referências no Seminário 7: A ética da psicanálise
Pesquisa realizada por Marícia Ciscato
CÓLERA
Lacan, J. O seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. P.129,130.
A psicologia dos afetos, teremos, talvez, um dia, de estudá-la juntos. Gostaria simplesmente, para forçar o caráter inadequado do que foi efetuado nessa ordem até hoje, e especialmente na análise, de propor-lhes incidentemente alguns temas de meditação, por exemplo, sobre um afeto como a cólera. São pequenos exercícios práticos, laterais, que lhes forneço. O emprego das categorias precisas às quais os incito a se referirem poderia, talvez, explicar porque na história da psicologia e da ética, se interessaram tanto pela cólera e porque nos interessamos tão pouco na análise.
O que Descartes, por exemplo, articula sobre a cólera satisfaz plenamente a vocês? A hipótese de trabalho que lhes sugiro, a qual seria preciso ver se cola ou se não cola, é a de que a cólera é certamente uma paixão que se manifesta por meio de tal correlato orgânico ou fisiológico, por meio de tal sentimento mais ou menos hipertônico, e até mesmo relativo, mas que necessita, talvez, como que de uma reação do sujeito a uma decepção, ao fracasso de uma correlação esperada entre uma ordem simbólica e a resposta do real. Em outros termos, a cólera está essencialmente ligada ao que expressa essa fórmula de Péguy, que o disse numa circunstância humorística – é quando as cavilhazinhas não entram nos furinhos.
Reflitam sobre isso e vejam se pode servir-lhes. Isso tem todo tipo de aplicação possível, até mesmo e inclusive de se ver aí o índice de um esboço de organização simbólica do mundo nas raras espécies animais em que se pode efetivamente contestar algo que se assemelhe com a cólera. Pois é bastante surpreendente que a cólera esteja notavelmente ausente do reino animal no conjunto de sua extensão.
Referências no seminário 17
Pesquisa realizada por Márcia Stival
ÓDIO
LACAN, J. Seminário livro 17 O avesso da psicanálise. Rio de janeiro, Jorge Zahar, 1992, p.128.
“… O analista – chegarei a dizer que pude xperimentá-lo em mim mesmo? -, o analista não tem essa paixão feroz que tanto nos surpreende quando se trata de Yahvé. Yahvé se situa no ponto mais paradoxal em relação a uma outra perspectiva que seria, por exemplo, a do budismo, em que se recomenda purificar-se das três paixões fundamentais, o amor, o ódio e a ignorância…”
CÓLERA
LACAN, J. Seminário livro 17 O avesso da psicanálise. Rio de janeiro, Jorge Zahar, 1992, p. 131.
“O ponto importante é o uso do ‘ich de que falávamos outro dia. A novidade de Oséias, se entendi bem, é, em suma, esse chamado de um tipo bem particular. Espero que todo mundo vá procurar uma pequena Bíblia para ter uma ideia do tom de Oséias. É uma espécie de fúria invectiva, realmente tripudiante, a da palavra de Yahvé falando a seu povo em um longo discurso. Quando falei de Oséias antes de ter o livro de Sellin, disse – Eu, em Oséias, nunca li nada que se pareça nem de longe com o que Sellin achou, mas em compensação assinalei de passagem a importância da invectiva, da imputação de ritos de prostituição sagrada que vai de uma ponta a outra, e em contraposição, uma espécie de exortação pela qual Yavé se declara o esposo. Pode-se dizer que é aí que começa essa longa tradição, bastante misteriosa em si mesma, cujo sentido não me pareceu com evidência que pudéssemos realmente situar, que fez de Cristo o esposo da Igreja, e da Igreja, a esposa de Cristo. Isso começa aqui, não há rastro disso antes de Oséias”.
Lacan – Écrits
Pesquisa realizada por Teresinha N. M. Prado
COLÈRE
Page 103 : Nous pouvons quasiment la mesurer dans la modulation revendicatrice qui soutient parfois tout le discours, dans ses suspensions, ses hésitations, ses inflexions et ses lapsus, dans les inexactitudes du récit, les irrégularités dans l’application de la règle, les retards aux séances, les absences calculées, souvent dans les récriminations, les reproches, les craintes fantasmiques, les réactions émotionnelles de colère, les démonstrations à fin intimidante; les violences proprement dites étant aussi rares que l’impliquent la conjoncture de recours qui a mené au médecin le malade, et sa transformation, acceptée par ce dernier, en une convention de dialogue. L’efficacité propre à cette intention agressive est manifeste nous la constatons couramment dans l’action formatrice d’un individu sur les personnes de sa dépendance : l’agressivité intentionnelle ronge, mine, désagrège; elle châtre; elle conduit à la mort.
Page 110 : THÉSE IV : L’agressivité est la tendance corrélative d’un mode d’identification que nous appelons narcissique et qui détermine la structure formelle du moi de l’homme et du registre d’entités caractéristique de son monde.
L’expérience subjective de l’analyse inscrit aussitôt ses résultats dans la psychologie concrète. Indiquons seulement ce qu’elle apporte à la psychologie des émotions en montrant la signification commune d’états aussi divers que la crainte fantasmatique, la colère, la tristesse active ou la fatigue psychasthénique.
Page 433 : Car le raisin vert de la parole par quoi l’enfant reçoit trop tôt d’un père l’authentification du néant de l’existence, et la grappe de la colère qui répond aux mots de fausse espérance dont sa mère l’a leurré en le nourrissant au lait de son vrai désespoir, agacent plus ses dents que d’avoir été sevré d’une jouissance imaginaire ou même d’avoir été privé de tels soins réels.
Page 450 : Car c’est de cette relation de l’homme au signifiant que les humanités dessinent l’expérience, et c’est en elle que les situations génératrices de ce que nous appelons l’humanité, s’instituent, comme en témoigne le fait que Freud en plein scientisme a été conduit non seulement à reprendre pour notre pensée le mythe d’Œdipe, mais à promouvoir à notre époque un mythe d’origine, sous la forme d’un meurtre du père que la loi primordiale aurait pérennisé, selon la formule dont nous avons connoté l’entrée du symbolisme dans le réel : «en lui donnant un autre sens».
Aussi bien avec toute la contingence que l’instance du signifiant imprime dans l’inconscient, elle n’en dresse que plus sûrement devant nous la dimension que nulle expérience imaginable ne peut nous permettre de déduire de la donnée d’une immanence vivante, à savoir la question de l’être, ou pour mieux dire la question tout court, celle du « pourquoi soi? », par où le sujet projette dans l’énigme son sexe et son existence.
C’est ce qui, dans la même page où je soulignais « dans le drame pathétique de la névrose…, les aspects absurdes d’une symbolisation déconcertée, dont le quiproquo, qu’on le pénètre plus avant, apparaît plus dérisoire », m’a fait écrire, redonnant ici sa portée à l’autorité paternelle telle que Jérémie et Ezéchiel dans le passage ci-devant cité nous la montrent au principe du pacte signifiant, et la conjoignant comme il convient, par les termes bibliques dont use l’auteur femme 1 de l’hymne de bataille américain, à la malédiction de la mère
« Car le raisin vert de la parole par quoi l’enfant reçoit trop tôt d’un père l’authentification du néant de l’existence, et la grappe de la colère qui répond aux mots de fausse espérance dont sa mère l’a leurré en le nourrissant au lait de son vrai désespoir, agacent plus t. Julia Ward Howe.
HAINE
Page 19 : On peut en effet en saisir l’équivalent dans la communion qui s’établit entre deux personnes dans la haine envers un même objet : à ceci près que la rencontre n’est jamais possible que sur un objet seulement, défini par les traits de l’être auquel ]’une et l’autre se refusent.
Mais une telle communication n’est pas transmissible sous la forme symbolique. Elle ne se soutient que dans la relation à cet objet. C’est ainsi qu’elle peut réunir un nombre indéfini de sujets dans un même « idéal » : la communication d’un sujet à l’autre à l’intérieur de la foule ainsi constituée, n’en restera pas moins irréductiblement médiatisée par une relation ineffable.
Page 24 : Le langage rend sa sentence à qui sait l’entendre : par l’usage de l’article employé comme particule partitive. C’est même bien là que l’esprit, si l’esprit est la vivante signification, apparaît non moins singulièrement plus offert à la quantification que la lettre. A commencer par la signification elle-même qui souffre qu’on dise : ce discours plein de signification, de même qu’on reconnaît de l’intention dans un acte, qu’on déplore qu’il n’y ait plus d’amour, qu’on accumule de la haine et qu’on dépense du dévouement, et que tant d’infatuation se raccommode de ce qu’il y aura toujours de la cuisse à revendre et du rififi chez les hommes.
Page 40 : Sans doute voici l’audacieux réduit à l’état d’aveuglement imbécile, où l’homme est vis-à-vis des lettres de muraille qui dictent son destin. Mais quel effet pour l’appeler à leur rencontre, peut-on attendre des seules provocations de la Reine pour un homme tel que lui? L’amour ou la haine. L’un est aveugle et lui fera rendre les armes. L’autre est lucide, mais éveillera ses soupçons. Mais s’il est vraiment le joueur qu’on nous dit, il interrogera, avant de les abattre, une dernière fois ses cartes, et y lisant son jeu, il se lèvera de la table à temps pour éviter la honte.
Pages 308-309 : Freud, rappelons-le, touchant les sentiments qu’on rapporte au transfert, insistait sur la nécessité d’y distinguer un facteur de réalité, et ce serait, concluait-il, abuser de la docilité du sujet que de vouloir le persuader en tous les cas que ces sentiments sont une simple répétition transférentielle de la névrose. Dès lors, comme ces sentiments réels se manifestent comme primaires et que le charme propre de nos personnes reste un facteur aléatoire, il peut sembler qu’il y ait là quelque mystère.
Mais ce mystère s’éclaircit à l’envisager dans la phénoménologie gie du sujet, en tant que le sujet se constitue dans la recherche de la vérité. Il n’est que de recourir aux données traditionnelles que les bouddhistes nous fourniront, s’ils ne sont pas les seuls, pour reconnaître dans cette forme du transfert l’erreur propre de l’existence, et sous trois chefs dont ils font le compte ainsi l’amour, la haine et l’ignorance. C’est donc comme contre-effet du mouvement analytique que nous comprendrons leur équivalence dans ce qu’on appelle un transfert positif à l’origine, – chacun trouvant à s’éclairer des deux autres sous cet aspect existentiel, si l’on n’excepte pas le troisième généralement omis pour sa proximité du sujet.
Page 344 : La conception du phénomène de l’amour-passion comme déterminé par l’image du Moi idéal autant que la question posée de l’imminence en lui de la haine, seront les points à méditer de la période susdite de la pensée freudienne, si l’on veut comprendre comme il convient la relation du moi à l’image de l’autre, telle qu’elle apparaît suffisamment évidente dans le seul titre, conjoignant Psychologie collective et analyse du Moi (1921)1, d’un des articles par où Freud inaugure la dernière période de sa pensée, celle où il achèvera de définir le Moi dans la topique.
Page 346 : Or sans doute l’analyste sait-il, à l’encontre, qu’il ne faut pas qu’il réponde aux appels, si insinuants soient-ils, que le sujet lui fait entendre à cette place, sous peine de voir y prendre corps l’amour de transfert que rien, sauf sa production artificielle, ne distingue de l’amour-passion, les conditions qui l’ont produit venant dès lors à échouer par leur effet, et le discours analytique à se réduire au silence de la présence évoquée. Et l’analyste sait encore qu’à la mesure de la carence de sa réponse, il provoquera chez le sujet l’agressivité, voire la haine, du transfert négatif.
Page 347 : Dès lors, il entrera dans le jeu d’une connivence plus radicale où le modelage du sujet par le Moi de l’analyste ne sera que l’alibi de son narcissisme.
Si la vérité de cette aberration ne s’avouait pas ouvertement dans la théorie qu’on en donne et dont nous avons plus haut relevé les formes, la preuve en serait faite dans les phénomènes qu’un des analystes les mieux formés à l’école d’authenticité de Ferenczi analyse de façon si sensible pour caractéristiques des cas qu’il considère comme terminés : qu’il nous décrive cette ardeur narcissique dont le sujet est consumé et qu’on le presse d’aller éteindre au bain froid de la réalité, ou cette irradiation, dans son adieu, d’une émotion indescriptible, et dont il va jusqu’à noter que l’analyste y participe1. On en trouve la contre-épreuve dans la résignation déçue du même auteur à admettre que certains êtres ne puissent espérer mieux que de se séparer de l’analyste dans la haine.
Page 358 : L’analyste, en effet, ne saurait y entrer qu’à reconnaître en son savoir le symptôme de son ignorance, et ceci au sens proprement analytique que le symptôme est le retour du refoulé dans le compromis, et que le refoulement ici comme ailleurs est censure de la vérité. L’ignorance en effet ne doit pas être entendue ici comme une absence de savoir, mais, à l’égal de l’amour et de la haine, comme une passion de l’être; car elle peut être, à leur instar, une voie où l’être se forme.
C’est bien là qu’est la passion qui doit donner son sens à toute la formation analytique, comme il est évident à seulement s’ouvrir au fait qu’elle structure sa situation.
Page 478 : Dans la conquête du pouvoir, on a largement utilisé la Schadenfreude que satisfait chez l’opprimé l’identification au Führer. Dans une quête de savoir, un certain refus qui se mesure à l’être, au-delà de l’objet, sera le sentiment qui soudera le plus fortement la troupe : ce sentiment est connaissance, sous une forme pathétique, en lui l’on communie sans communiquer, et il s’appelle la haine.
Pages 506-507 : Sa gerbe n’était pas avare ni haineuse… (…)
Dans le vers de Hugo, il est manifeste qu’il ne jaillit pas la moindre lumière de l’attestation qu’une gerbe ne soit pas avare ni haineuse, pour la raison qu’il n’est pas question qu’elle ait le mérite plus que le démérite de ces attributs, l’un et l’autre étant avec elle propriétés de Booz qui les exerce à disposer d’elle, sans lui faire part de ses sentiments.
Si sa gerbe renvoie à Booz, comme c’est bien le cas pourtant, c’est de se substituer à lui dans la chaîne signifiante, à la place même qui l’attendait d’être exhaussée d’un degré par le déblaiement de l’avarice et de la haine. Mais dès lors c’est de Booz que la gerbe a fait cette place nette, rejeté qu’il est maintenant dans les ténèbres du dehors où l’avarice et la haine l’hébergent dans le creux de leur négation.
Mais une fois que sa gerbe a ainsi usurpé sa place, Booz ne saurait y revenir, le mince fil du petit sa qui l’y rattache y étant un obstacle de plus, à lier ce retour d’un titre de possession qui le retiendrait au sein de l’avarice et de la haine. Sa générosité affirmée se voit réduite à moins que rien par la munificence de la gerbe qui, d’être prise à la nature, ne connaît pas notre réserve et nos rejets, et même dans son accumulation reste prodigue pour notre aune. Mais si dans cette profusion le donateur a disparu avec le don, c’est pour resurgir dans ce qui entoure la figure où il s’est annihilé. Car c’est le rayonnement de la fécondité, – qui annonce la surprise que célèbre le poème, à savoir la promesse que le vieillard va recevoir dans un contexte sacré de son avènement à la paternité. C’est donc entre le signifiant du nom propre d’un homme et celui qui l’abolit métaphoriquement, que se produit l’étincelle poétique, ici d’autant plus efficace à réaliser la signification de la paternité qu’elle reproduit l’événement mythique où Freud a reconstruit le cheminement, dans l’inconscient de tout homme, du mystère paternel.
Page 627 : Le désir est ce qui se manifeste dans l’intervalle que creuse la demande en deçà d’elle-même, pour autant que le sujet en articulant la chaîne signifiante, amène au jour le manque à être avec l’appel d’en recevoir le complément de l’Autre, si l’Autre, lieu de la parole, est aussi le lieu de ce manque.
Ce qui est ainsi donné à l’Autre de combler et qui est proprement ce qu’il n’a pas, puisque à lui aussi l’être manque, est ce qui s’appelle l’amour, mais c’est aussi la haine et l’ignorance.
C’est aussi, passions de l’être, ce qu’évoque toute demande au-delà du besoin qui s’y articule, et c’est bien ce dont le sujet reste d’autant plus proprement privé que le besoin articulé dans la demande est satisfait.
Page 628 : 10. Mais l’enfant ne s’endort pas toujours ainsi dans le sein de l’être, surtout si l’Autre qui a aussi bien ses idées sur ses besoins, s’en mêle, et à la place de ce qu’il n’a pas, le gave de la bouillie étouffante de ce qu’il a, c’est-à-dire confond ses soins avec le don de son amour.
C’est l’enfant que l’on nourrit avec le plus d’amour qui refuse la nourriture et joue de son refus comme d’un désir (anorexie mentale).
Confins où l’on saisit comme nulle part que la haine rend la monnaie de l’amour, mais où c’est l’ignorance qui n’est pas pardonnée.
En fin de compte, l’enfant en refusant de satisfaire à la demande de la mère, n’exige-t-il pas que la mère ait un désir en dehors de lui, parce que c’est là la voie qui lui manque vers le désir?
Page 679 : Le désir se produit dans l’au-delà de la demande, de ce qu’en articulant la vie du sujet à ses conditions, elle y émonde le besoin, mais aussi il se creuse dans son en-deçà, en ce que, demande inconditionnelle de la présence et de l’absence, elle évoque le manque à être sous les trois figures du rien qui fait le fonds de la demande d’amour, de la haine qui va à nier l’être de l’autre et de l’indicible de ce qui s’ignore dans sa requête. Dans cette aporie incarnée dont on peut dire en image qu’elle emprunte son âme lourde aux rejetons vivaces de la tendance blessée, et son corps subtil à la mort actualisée dans la séquence signifiante, le désir s’affirme comme condition absolue.
Moins encore que le rien qui passe dans la ronde des significations qui agitent les hommes, il est le sillage inscrit de la course, et comme la marque du fer du signifiant à l’épaule du sujet qui parle. Il est moins passion pure du signifié que pure action du signifiant, qui s’arrête, au moment où le vivant devenu signe, la rend insignifiante.
Page 786 : Des imprévisibles quanta dont l’atome amour-haine se moire au voisinage de la Chose d’où l’homme émerge par un cri, ce qui s’éprouve, passées certaines limites, n’a rien à faire avec ce dont le désir se supporte dans le fantasme qui justement se constitue de ces limites.
Page 825 : C’est ainsi qu’à montrer son objet comme châtré, Alcibiade parade comme désirant, – la chose n’échappe pas à Socrate -, pour un autre présent parmi les assistants, Agathon, que Socrate précurseur de l’analyse, et aussi bien, sûr de son affaire en ce beau monde, n’hésite pas à nommer comme objet du transfert, mettant au jour d’une interprétation le fait que beaucoup d’analystes ignorent encore : que l’effet amour-haine dans la situation psychanalytique se trouve au dehors.
Page 892 : Après quoi, il nous faudra rappeler que tout blablabla que soit essentiellement le langage, c’est de lui pourtant que procèdent l’avoir et l’être.
Ce sur quoi jouant la métaphore par nous-même choisie dans l’article cité tout à l’heure’, nommément : « Sa gerbe n’était pas avare ni haineuse » de Booz endormi, ce n’est pas chanson vaine qu’elle évoque le lien qui, chez le riche, unit la position d’avoir au refus inscrit dans son être. Car c’est là impasse de l’amour. Et sa négation même ne ferait rien de plus ici, nous le savons, que la poser, si la métaphore qu’introduit la substitution de « sa gerbe » au sujet, ne faisait surgir le seul objet dont l’avoir nécessite le manque à l’être : le phallus, autour de quoi roule tout le poème jusqu’à son dernier tour.
HAIS
Page 541 : Que Freud, dans son essai d’interprétation du cas du président Schreber, qu’on lit mal à le réduire aux rabâchages qui ont suivi, emploie la forme d’une déduction grammaticale pour y présenter l’aiguillage de la relation à l’autre dans la psychose : soit les différents moyens de nier la proposition : Je l’aime, dont il s’ensuit, que ce jugement négatif se structure en deux temps : le premier, le renversement de la valeur du verbe : Je le hais, ou d’inversion du genre de l’agent ou de l’objet : ce n’est pas moi, ou bien ce n’est pas lui, c’est elle (ou inversement), – le deuxième d’interversion des sujets : il me hait, c’est elle qu’il aime, c’est elle qui m’aime, – les problèmes logiques formellement impliqués dans cette déduction ne retiennent personne.
DIGN – pesquisa pelo radical da palavra ‘in-dign-ação’ e derivações
Page 14 : Dupin à donner un libellé à sa lettre factice. Quoi qu’il en soit, le ministre, quand il voudra en faire usage, pourra y lire ces mots tracés pour qu’il y reconnaisse la main de Dupin :
… Un dessein si funeste
S’il n’est digne d’Atrée, est digne de Thyeste.
que Dupin nous indique provenir de l’Atrée de Crébillon.
Est-il besoin que nous soulignions que ces deux actions sont semblables? Oui, car la similitude que nous visons n’est pas faite de la simple réunion de traits choisis à la seule fin d’appareiller leur différence. Et il ne suffirait pas de retenir ces traits de ressemblance aux dépens des autres pour qu’il en résulte une vérité quelconque. C’est l’intersubjectivité où les deux actions se motivent que nous voulons relever, et les trois termes dont elle les structure. Le privilège de ceux-ci se juge à ce qu’ils répondent à la fois aux trois temps logiques par quoi la décision se précipite, et aux trois places qu’elle assigne aux sujets qu’elle départage.
Page 33 : L’ascendant que le ministre tire de la situation ne tient donc pas à la lettre, mais, qu’il le sache ou non, au personnage qu’elle lui constitue. Et aussi bien les propos du Préfet nous le présentent-ils comme quelqu’un à tout oser, who dores ail things, et l’on commente significativement : those unbecoming as well as those becoming a man ce qui veut dire : ce qui est indigne aussi bien que ce qui est digne d’un homme, et ce dont Baudelaire laisse échapper la pointe en le traduisant : ce qui est indigne d’un homme aussi bien que ce qui est digne de lui. Car dans sa forme originale, l’appréciation est beaucoup plus appropriée à ce qui intéresse une femme.
Page 38 : On se souvient du spirituel distique attribué avant sa chute au plus récent en date à avoir rallié le rendez-vous de Candide à Venise
I! n’est plus aujourd’hui que cinq rois sur la terre, Les quatre rois des cartes et le roi d’Angleterre.
s. Ce propos a été avoué en termes clairs par un noble Lord parlant à la Chambre Haute où sa dignité lui donnait sa place.
Page 40 : … Un destin si funeste,
S’il n’est digne d’Atrée, est digne de Thyeste.
Telle est la réponse du signifiant au-delà de toutes les significations :
« Tu crois agir quand je t’agite au gré des liens dont je noue tes désirs. Ainsi ceux-ci croissent-ils en forces et se multiplient-ils en objets qui te ramènent au morcellement de ton enfance déchirée. Eh bien, c’est là ce qui sera ton festin jusqu’au retour de l’invité de pierre, que je serai pour toi puisque tu m’évoques. »
Pour retrouver un ton plus tempéré, disons selon le canular, dont, avec certains d’entre vous qui nous avaient suivi au Congrès de Zurich l’année dernière, nous avions fait l’hommage au mot de passe de l’endroit, que la réponse du signifiant à celui qui l’interroge est : « Mange ton Dasein. »
Est-ce donc là ce qui attend le ministre à un rendez-vous fatidique. Dupin nous l’assure, mais nous avons aussi appris à nous défendre d’être à ses diversions trop crédules.
Sans doute voici l’audacieux réduit à l’état d’aveuglement imbécile, où l’homme est vis-à-vis des lettres de muraille qui dictent son destin. Mais quel effet pour l’appeler à leur rencontre, peut-on attendre des seules provocations de la Reine pour un homme tel que lui? L’amour ou la haine. L’un est aveugle et lui fera rendre les armes. L’autre est lucide, mais éveillera ses soupçons. Mais s’il est vraiment le joueur qu’on nous dit, il interrogera, avant de les abattre, une dernière fois ses cartes, et y lisant son jeu, il se lèvera de la table à temps pour éviter la honte.
Page 93 : La conception du stade du miroir que j’ai introduite à notre dernier congrès, il y a treize ans, pour être depuis plus ou moins passée dans l’usage du groupe français, ne m’a pas paru indigne d’être rappelée à votre attention : aujourd’hui spécialement quant aux lumières qu’elle apporte sur la fonction du je dans l’expérience que nous en donne la psychanalyse. Expérience dont il faut dire qu’elle nous oppose à toute philosophie issue directement du cogito.
Page 107 : Nous voulons éviter une embûche, que recèle déjà cet appel, marqué du pathétique éternel de la foi, que le malade nous adresse. Il comporte un secret. « Prends sur toi, nous dit-on, ce mal qui pèse sur mes épaules; mais, tel que je te vois repu, rassis et confortable, tu ne peux pas être digne de le porter. »
Ce qui apparaît ici comme revendication orgueilleuse de la souffrance montrera son visage – et parfois à un moment assez décisif pour entrer dans cette « réaction thérapeutique négative » qui a retenu l’attention de Freud – sous la forme de cette résistance de l’amour-propre, pour prendre ce terme dans toute la profondeur que lui a donnée La Rochefoucauld, et qui souvent s’avoue ainsi : « Je ne puis accepter la pensée d’être libéré par un autre que par moi-même. »
Certes, en une plus insondable exigence du cœur, c’est la participation à son mal que le malade attend de nous. Mais c’est la réaction hostile qui guide notre prudence et qui déjà inspirait à Freud sa mise en garde contre toute tentation de jouer au prophète. Seuls les saints sont assez détachés de la plus profonde des passions communes pour éviter les contrecoups agressifs de la charité.
Page 135 : Observons ici la manifestation spontanée de ce ressort dans la conduite du criminel, et le transfert qui, tend à se produire sur la personne de son juge, comme les preuves en seraient faciles à recueillir. Citons seulement pour la beauté du fait les confidences du nommé Frank au psychiatre Gilbert chargé de la bonne présentation des accusés au procès de Nuremberg : ce Machiavel dérisoire, et névrosique à point pour que l’ordre insensé du fascisme lui confiât ses hautes œuvres, sentait le remords agiter son âme au seul aspect de dignité incarné dans la figure de ses juges, particulièrement celle du juge anglais, « si élégant », disait-il.
Les résultats obtenus avec des criminels « majeurs » par Melitta Schmiedeberg, encore que leur publication se heurte à l’obstacle que rencontrent toutes nos cures, mériteraient d’être suivis dans leur catamnèse.
Page 267 : Car il ne se résout pas dans les efforts de certains qui, – semblables à ces philosophes que Platon raille de ce que leur appétit du réel les menât à embrasser les arbres -, vont à prendre tout épisode où pointe cette réalité qui se dérobe, pour la réaction vécue dont ils se montrent si friands. Car ce sont ceux-là mêmes qui, se donnant pour objectif ce qui est au-delà du langage, réagissent à la « défense de toucher » inscrite en notre règle par une sorte d’obsession. Nul doute que, dans cette voie, se flairer réciproquement ne devienne le fin du fin de la réaction de transfert. Nous n’exagérons rien : un jeune psychanalyste en son travail de candidature peut de nos jours saluer dans une telle subodoration de son sujet, obtenue après deux ou trois ans de psychanalyse vaine, l’avènement attendu de la relation d’objet, et en recueillir le dignus est intrare de nos suffrages, garants de ses capacités.
Si la psychanalyse peut devenir une science, – car elle ne l’est pas encore -, et si elle ne doit pas dégénérer dans sa technique, – et peut-être est-ce déjà fait -, nous devons retrouver le sens de son expérience.
Page 476 : L’opposition de l’insuffisance, que suggère un pur formalisme, est insoutenable dialectiquement. La moindre assomption de la suffisance éjecte l’insuffisance de son champ, mais aussi bien la pensée de l’insuffisance comme d’une catégorie de l’être exclut-elle radicalement de toutes les autres la Suffisance. C’est l’une ou l’autre, incompatiblement.
Il nous faut une catégorie qui, saris impliquer l’indignité, indique qu’être hors de la suffisance, c’est là sa place, et qu’on se qualifie pour l’occuper à s’y tenir. Par où la dénomination de Petits Souliers, pour ceux qui s’y rangent, nous paraît bonne, car outre qu’elle fait image assez pour que dans une assemblée on les distingue aisément, elle les définit par ce maintien : ils sont toujours dans leurs petits souliers, et dans le fait qu’ils s’en arrangent, manifestent une suffisance voilée de son opposition à la Suffisance.
Entre la position ainsi marquée et la Suffisance, il reste pourtant un hiatus qu’aucune transition ne peut combler. Et l’échelon qui la simule dans la hiérarchie, n’est là que trompe-l’œil.
Page 501 : Arrêtons-nous là. On dirait l’histoire de France. Plus humaine, comme de juste, à s’évoquer ici que celle d’Angleterre, vouée à culbuter du Gros au Petit Bout de l’œuf du Doyen Swift.
Reste à concevoir quel marchepied et quel couloir l’S du signifiant, visible ici dans les pluriels dont il centre ses accueils au-delà de la vitre, doit franchir pour porter ses coudes aux canalisations par où, comme l’air chaud et l’air froid, l’indignation et le mépris viennent à souffler en deçà.
Une chose est certaine, c’est que cet accès en tout cas ne doit comporter aucune signification, si l’algorithme S avec sa barre s
lui convient. Car l’algorithme, en tant qu’il n’est lui-même que pure fonction du signifiant, ne peut révéler qu’une structure de signifiant à ce transfert.
Page 528 : C’est pour empêcher que ne tombe en friche le champ dont ils ont l’héritage, et pour cela leur faire entendre que si le symptôme est une métaphore, ce n’est pas une métaphore que de le dire, non plus que de dire que le désir de l’homme est une métonymie. Car le symptôme est une métaphore, que l’on veuille ou non se le dire, comme le désir est une métonymie, même si l’homme s’en gausse.
Aussi bien pour que je vous invite à vous indigner qu’après tant de siècles d’hypocrisie religieuse et d’esbrouffe philosophique, rien n’ait été encore valablement articulé de ce qui lie la métaphore à la question de l’être et la métonymie à son manque, – faudrait-il que, de l’objet de cette indignation en tant que fauteur et que victime, quelque chose soit encore là pour y répondre à savoir l’homme de l’humanisme et la créance, irrémédiablement protestée, qu’il a tirée sur ses intentions.
Page 567 : (já utilizada)
Sans doute n’eût-il pas trois ans après (1911-1914) manqué le vrai ressort du renversement de la position d’indignation, que soulevait d’abord en la personne du sujet l’idée de l’Entmannung c’est très précisément que dans l’intervalle le sujet était mort. C’est du moins l’événement que les voix, toujours renseignées aux bonnes sources et toujours égales à elles-mêmes dans leur service d’information, lui firent connaître après coup avec sa date et le nom du journal dans lequel il était passé à la rubrique nécrologique.
Page 612 : Nous voulons faire entendre que c’est à la mesure des impasses éprouvées à saisir leur action dans son authenticité que les chercheurs comme les groupes, viennent à la forcer dans le sens de l’exercice d’un pouvoir.
Ce pouvoir, ils le substituent à la relation à l’être où cette action prend place, faisant déchoir ses moyens, nommément ceux de la parole, de leur éminence véridique. C’est pourquoi c’est bien une sorte de retour du refoulé, si étrange soit-elle, qui, des prétentions les moins disposées à s’embarrasser de la dignité de ces moyens, fait s’élever ce pataquès d’un recours à l’être comme à une donnée du réel, quand le discours qui y règne, rejette toute interrogation qu’une platitude superbe n’aurait pas déjà reconnue.
Pages 637-38 : Car le paradoxe du désir n’est pas le privilège du névrosé, mais c’est plutôt qu’il tienne compte de l’existence du paradoxe dans sa façon de l’affronter. Ceci ne le classe pas si mal dans l’ordre de la dignité humaine, et ne fait pas honneur aux analystes médiocres (ceci n’est pas une appréciation, mais un idéal formulé dans un vœu formel des intéressés), qui sur ce point n’atteignent pas à cette dignité : surprenante distance qu’ont toujours notée à mots couverts les analystes… autres, sans qu’on sache comment distinguer ceux-ci, puisque eux n’auraient jamais songé à le faire d’eux-mêmes, s’ils n’avaient eu d’abord à s’opposer au dévoiement des premiers.
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